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Josias de Souza

Ministro pede reação contra ataque à Petrobras

Josias de Souza

06/03/2015 19h48

Valter Campanato/ABr

O ministro Carlos Gabas (Previdência) esteve no Dieese, em São Paulo, para debater os efeitos das propostas do governo que dificultam o acesso a benefícios trabalhistas e previdenciários como o seguro-desemprego, auxílio-doença e pensão por morte. Amigo de Dilma, Gabas sentiu-se à vontade para sair em defesa da Petrobras. O ministro chegou mesmo a conclamar os movimentos sindicais a responder ao que chamou de "ataque organizado de várias frentes contra a atividade da Petrobras".

Gabas tem razão. A Petrobras encontra-se mesmo sob ataque. Mas o apelo do ministro chega com atraso. O ataque foi "organizado" sob Lula, que permitiu a invasão de "várias frentes" —a frente do PT, a frente do PMDB, a frente do PP…— nas diretorias da maior estatal brasileira. A agressão à "atividade da Petrobras" continuou sob Dilma, que demorou um ano para afastar da estatal os prepostos dos salteadores.

O ministro falou também sobre o trabalho do Ministério Público Federal na Operação Lava Jato. Pronunciou algo muito parecido com uma defesa das empreteiras que distribuíram propinas a funcionários públicos, políticos e partidos.

"Nossa convicção é a seguinte: se tem fraude, crime, tem que ser apurado e todos os responsáveis punidos", disse Gabas. "Mas não se pode fechar empresas, pois estaríamos matando a nossa engenharia, a nossa capacidade de produção que são patrimônio nacional."

O ministro lamentou que a Lava Jato provoque uma série de demissões nas empresas que tinham negócios com a Petrobras. "O Ministério Público quer que as empresas não possam mais funcionar no Brasil. Isso, faz com que empresas estrangeiras tenham que assumir o que as nacionais estavam fazendo. O trabalhador brasileiro não pode pagar essa conta…"

De novo, Gabas tem razão. Quem roubou, de fato, merece punição. Morte de empresas e perda de empregos são coisas péssimas. Porém, se olhar ao redor, o auxiliar de Dilma vai perceber que os procuradores da Lava Jata parecem empenhados em impedir que as empresas continuem roubando nos contratos firmados com o Estado. Empresas honestas não foram incomodadas.

Além dos trabalhadores, também os contribuintes não podem pagar essa conta. Se frequentasse escolas e hospitais públicos, o ministro talvez refinasse seus pontos de vista. Perceberia que o dinheiro assaltado faz muita falta.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.