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Josias de Souza

Propinas da Petrobras financiaram até advogados de dois réus do mensalão

Josias de Souza

10/03/2015 04h07

Em depoimento prestado no último dia 11 de fevereiro, o delator premiado Alberto Yousseff revelou que, durante o julgamento do processo do mensalão, a defesa de dois dos réus, os ex-deputados José Janene (PP-PR) e Pedro Corrêa (PP-PE), foi custeada com verbas sujas obtidas em negócios ilíticos de empreiteiras com a Petrobras. O próprio Youssef intermediou os repasses, que somavam até R$ 70 mil mensais.

Suprema desaçatez: os réus pagaram os honorários do seu defensor num escândalo de corrupção embrenhando-se noutro escândalo ainda maior. Chama-se Eduardo Ferrão o advogado titular da banca que recebeu as verbas de má origem. Os procuradores da força-tarefa da Lava Jato queriam saber se o doleiro Youssef tinha conhecimento dos vínculos entre o doutor Ferrão, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e o deputado federal Aníbal Gomes (PMDB-CE).

O repórter Jailton de Carvalho conta que Youssef declarou desconhecer o relacionamento entre os três. Mas informou que conhecia o escritório de Ferrão, porque era ele quem cuidava da defesa de Janene e Corrêa. Advogava também para o diretório nacional do PP, partido que controlava a diretoria de Abastecimento da Petrobras, por meio do ex-diretor Paulo Roberto Costa.

De acordo com a transcrição do depoimento, o doleiro Youssef disse que fez "vários pagamentos em dinheiro vivo" para cobrir os honorários que Ferrão cobrava do PP e dos deputados da legenda. O dinheiro era entregue no escritório do advogado, em Brasília —"…entre 40 mil e 70 mil reais por mês", disse o doleiro.

Ouvido, Ferrão confirmou os pagamentos. Mas disse desconhecer Youssef. "Quem me pagava era o PP, de quem eu era advogado desde 2003. Se o dinheiro vinha dele [Youssef] eu não posso saber. Eu emitia notas para o PP". O doutor declarou que não era ele o responsevel pelos recebimentos no escritório. "Não sei se eram transferências bancárias, cheque ou dinheiro vivo. Mas não teve nenhum pagamento que não teve nota emitida para o PP."

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.