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Josias de Souza

Conar manda Petrobras modificar propaganda

Josias de Souza

14/03/2015 02h37

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Se tudo continuar como está, a Petrobras vai acabar tendo que apelar para a competência. Na escala de decisões desastradas, a estatal já atingiu o ápice. A penúltima mandracaria foi desmontada pelo Conar, o Conselho Nacional de Autorregulação Publicitária. A entidade mandou a Petrobras alterar o conteúdo de um comercial que vem sendo exibido na tevê desde o mês passado.

Na peça, a Petrobras se vangloria de ter superado vários obstáculos ao longo de sua história de 61 anos —desde a dúvida inicial quanto à existência de petróleo no Brasil até a descoberta do pré-sal. E iguala os seus feitos históricos ao esforço atual para apagar de sua logomarca a mancha da corrupção.

"Hoje os desafios são outros e, por isso, estamos aprimorando a governança e a conformidade na gestão", diz o locutor do comercial a certa altura. "Seja qual for o desafio, nossa resposta será aquela que nos acompanha desde sempre: superação". O deputado federal José Carlos Aleluia (DEM-BA) achou que os idealizadores da mensagem exageraram na pantomima.

Para o deputado, a petrorroubalheira não é um desafio a ser superado, mas um crime a ser punido. "É criminoso fazer uma propaganda dessa. Em nada condiz com a verdade, ainda mais diante de um escândalo desses. É jogar dinheiro público fora", disse Aleluia.

Em defesa da plateia, o deputado protocolou uma representação no Conselho de Ética do Conar para tirar a peça do ar. Aleluia escorou sua petição no artigo 23 do Código Brasileiro de Autorregulação Publicitária. Anota o seguinte: "Os anúncios devem ser realizados de forma a não abusar da confiança do consumidor, não explorar sua falta de experiência ou de conhecimento e não se beneficiar de sua credulidade."

Por maioria de votos, os conselheiros do Conar entenderam que, de fato, a propaganda da Petrobras precisa ser modificada. Em decisão tomada na última quinta-feira, determinaram que a propaganda deixe de ser exibida até que seu conteúdo seja alterado. A Petrobras dispõe de dez dias para recorrer, se quiser. Mas o recurso não tem efeito suspensivo. A decisão precisa ser cumprida imediatamente.

Melhor assim. Quem assistia ao comercial ficava com a impressão de que o comando da Petrobras está dividido entre dois tipos de pessoas: os abertamente cínicos e os que não conseguem se conter.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.