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Josias de Souza

Virtudes de Graça Foster revelaram-se inúteis

Josias de Souza

26/03/2015 16h09

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Graça Foster esteve no Congresso pela enésima vez. Submeteu-se a uma inquirição na nova CPI da Petrobras. No ano passado, ainda no comando da estatal, ela cansou a língua de tanto repetir que a companhia tinha controles internos confiáveis. Hoje, já apeada da presidência da empresa pelo escândalo da Lava Jato, Graça se diz constrangida e envergonhada.

"Lógico que passo horas do meu dia pensando em tudo o que está acontecendo na Petrobras. Eu entrei aqui, nas outras CPIs, em audiências, com muito mais coragem do que entro hoje aqui", ela reconheceu perante os deputados que integram a comissão. "Eu tenho realmente um constrangimento muito grande, por tudo isso, de olhar pra vocês."

Guiando-se pela cartilha de Lula e Dilma, Graça reiterou que também "não sabia" que prepostos do PT, do PMDB e do PP violavam as arcas da Petrobras à larga, arrendando a estatal a bolsos espertos, à tesouraria clandestina dos partidos e à caixa registradora cartelizada das empreiteiras corruptoras.

O Brasil sabia pouco de Graça Foster até fevereiro de 2012, quando Dilma a promoveu de diretora de Gás e Energia a presidente da Petrobras. De origem humilde, ela dedicara a vida à estatal. Construíra uma fama de austeridade, eficiência e honestidade. Mas todas as virtudes da boa senhora revelaram-se uma hedionda inutilidade.

Até prova em contrário, Graça Foster, aposentada sob desmoralização, vai perambular pelos desvãos do noticiário por um bom tempo como um exemplo de administradora inocente, que emprestou sua boa reputação para que os colegas corruptos utilizassem como fachada para a mais desavergonhada operação de pilhagem já vista no país. Graça acha que a Petrobras merecia uma presidente mais eficiente do que ela. Bobagem. Bastaria ser menos cega.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.