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Josias de Souza

Dilma diz que propinas da Petrobras não irrigaram as contas de sua campanha

Josias de Souza

09/04/2015 05h59

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Em entrevista à repórter Patricia Janiot, do canal em espanhol da tevê norte-americana CNN, Dilma Rousseff disse ter "certeza" de que o dinheiro desviado da Petrobras não chegou ao caixa do seu comitê de campanha. A emissora divulgou em seu site um trecho da conversa. Eis o que declarou Dilma ao ser indagada sobre a hipótese de uso de dinheiro sujo no financiamento das despesas do seu comitê:

"Se dinheiro de suborno chegar a alguém, essa pessoa tem que ser responsabilizada. É assim que tem que ser. Eu tenho absoluta certeza que a minha campanha não tem dinheiro de suborno. Isso não significa que eu me coloque acima de qualquer brasileiro, cidadão ou cidadã. Eles têm que prestar contas do que fazem. E eu prestei. Para quem? Para o Tribunal Superior Eleitoral. Entreguei todas as minhas contas de campanha. Elas foram auditadas e foram aprovadas."

Dilma foi citada em depoimentos de dois delatores da Lava Jato: o ex-diretor Paulo Roberto Costa e o doleito Alberto Youssef. Mas o ministro Teori Zavascki, do STF, avalizou o entendimento do procurador-geral Rodrigo Janot, para quem não é possível abrir investigação contra a presidente. Primeiro porque não haveria indícios que justificassem o inquérito. Segundo porque as menções referem-se a fatos da campanha eleitoral de 2010, antes de Dilma ser empossada no primeiro mandato, em janeiro de 2011.

Segundo Janot, a Constituicão, no parágrafo 4º do artigo 86, anota que um presidente da República, no curso do mandato, não pode ser processado por atos não relacionados ao exercício das suas funções. O procurador-geral realçou que essa proibição para a abertura de investigação é uma imunidade temporária. Prevalece enquanto durar o mandato.

O delator Paulo Roberto contou que, em 2010, o doleiro Alberto Youssef lhe trouxe um pedido do petista Antonio Palocci, então coordenador da campanha presidencial de Dilma. Queria que fossem cedidos do caixa de petropropinas do PP, o Partido Progressista, R$ 2 milhões para a camanha de Dilma. Youssef foi autorizado a realizar o repasse. Ouvido, o doleiro negou que tivesse transferido o dinheiro.

Janot requereu ao ministro Teori que devolvesse à primeira instância do Judiciário esse pedaço do processo, para que seja apurada a conduta de Palocci. Foi atendido. Caberá ao juiz Sérgio Moro, que cuida da Lava Jato em Curitiba, perscrutar o suposto elo entre a roubalheira e a caixa registradora do comitê de Dilma-2010.

Dilma foi citada também em depoimento do doleiro Youssef. Ele afirmou que a presidência da Petrobras e o Palácio do Planalto sabiam do propinoduto que drenava verbas da estatal. Seus inquiridores perguntaram a quem se referia quando citava o Planalto. E o doleiro: Presidência da República, Casa Civil e Minas e Energia. Youssef foi aos nomes: Lula, Gilberto Carvalho, Ideli Salvatti, Gleisi Hoffman, Dilma Rousseff, Antonio Palocci, José Dirceu e Edison Lobão.

O procurador Rodrigo Janot avaliou que não há nessa declaração do delator Youssef indícios mínimos de que as autoridades citadas soubessem dos fatos. Na falta de evidências mais explícitas, achou que não seria o caso investigar.

De resto, a Operação Lava Jato alcançou tambem o atual tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. Denunciado pelo Ministério Público Federal por corrupção e lavagem de dinheiro, Vaccari foi convertido em réu pelo juiz paranaense Sérgio Moro, que converteu a denúncia dos procuradores em ação penal. O gestor das arcas do PT terá de responder à acusação de que recebeu propinas provenientes da Petrobras em nome do PT.

Vaccari e o partido não negam o recebimento de verbas de empresas pilhadas no cartel que fraudou licitações na Petrobras. Alegam, porém, que foram doações legais, devidamente informadas à Justiça Eleitoral. A Procuradoria sustenta que parte do dinheiro surrupiado da estatal petroleira foi lavado por meio de supostas doações de campanha. A despeito de tudo isso, Dilma disse à CNN ter "certeza" de que não passaram verbas de má origem pela caixa registradora do seu comitê.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.