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Josias de Souza

Anormalidade marcou escolha de titular do STF

Josias de Souza

14/04/2015 18h55

Na Brasília dos dias que correm, a diferença entre a normalidade e a anormalidade é que a primeira é muito mais comum. No processo de escolha do advogado Luiz Edson Fachin (foto) para ocupar a cadeira de Joaquim Barbosa no STF, Dilma Rousseff brindou o país com duas notáveis anormalidades. Uma, já muito decantada, foi a demora. Outra, bem menos abordada, foi a consulta feita ao presidente do Senado, Renan Calheiros.

Na conta mais favorável, a demora de Dilma foi de oito meses e meio, quase o prazo de uma gravidez. Coisa nunca antes vista na história desse país. O inusitado produziu cenas constrangedoras. A omissão da presidente foi abominada em termos duríssimos, numa sessão do Supremo, pelos dois ministros mais antigos da Corte, Celso de Mello (demora "irrazoável e abusiva") e Marco Aurélio Mello (atraso "nefasto").

Tudo isso é desagradavelmente inusual. Mas foi na consulta a Renan Calheiros que Dilma levou o absurdo às fronteiras do paroxismo. O presidente do Senado, como se sabe, é protagonista de um inquérito no Supremo. Investigam-no por suspeita de envolvimento na pilhagem da Petrobras.

Ainda que o doutor Luiz Edson Fachin, o escolhido de Dilma, não tenha que participar de um eventual julgamento de Renan, não parece razoável que a suprema mandatária da República adote um comportamento de tamanha submissão a um investigado. O diabo é que, na Brasília atual, o anormal é tão comum que vai ganhando ares de doce normalidade.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.