Anormalidade marcou escolha de titular do STF
Na Brasília dos dias que correm, a diferença entre a normalidade e a anormalidade é que a primeira é muito mais comum. No processo de escolha do advogado Luiz Edson Fachin (foto) para ocupar a cadeira de Joaquim Barbosa no STF, Dilma Rousseff brindou o país com duas notáveis anormalidades. Uma, já muito decantada, foi a demora. Outra, bem menos abordada, foi a consulta feita ao presidente do Senado, Renan Calheiros.
Na conta mais favorável, a demora de Dilma foi de oito meses e meio, quase o prazo de uma gravidez. Coisa nunca antes vista na história desse país. O inusitado produziu cenas constrangedoras. A omissão da presidente foi abominada em termos duríssimos, numa sessão do Supremo, pelos dois ministros mais antigos da Corte, Celso de Mello (demora "irrazoável e abusiva") e Marco Aurélio Mello (atraso "nefasto").
Tudo isso é desagradavelmente inusual. Mas foi na consulta a Renan Calheiros que Dilma levou o absurdo às fronteiras do paroxismo. O presidente do Senado, como se sabe, é protagonista de um inquérito no Supremo. Investigam-no por suspeita de envolvimento na pilhagem da Petrobras.
Ainda que o doutor Luiz Edson Fachin, o escolhido de Dilma, não tenha que participar de um eventual julgamento de Renan, não parece razoável que a suprema mandatária da República adote um comportamento de tamanha submissão a um investigado. O diabo é que, na Brasília atual, o anormal é tão comum que vai ganhando ares de doce normalidade.
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