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Josias de Souza

Ao ‘afastar’ Vaccari, PT quase pede desculpas

Josias de Souza

15/04/2015 20h08

Todo o dinheiro roubado da Petrobras não daria para vestir 5% das desculpas esfarrapadas que o PT utiliza para justificar seu apreço por João Vaccari Neto. Depois de uma conversa com Lula, Rui Falcão, suposto presidente da legenda, divulgou nota para informar que Vaccari não é mais o tesoureiro do PT. O texto é quase um pedido de desculpas do partido ao companheiro preso.

O documento de Falcão tem cinco itens. No primeiro, o PT tacha de "injustificada" a prisão de Vaccari. No segundo, diz manter a "confiança na inocência" do preso. No terceiro, anuncia um "pedido de habeas corpus" para abrir a cela "no prazo mais curto possível". Só no quarto e penúltimo parágrafo o PT trata da saída de Vaccari de sua tesouraria.

Não foi expurgado, "solicitou seu afastamento", o texto apressou-se em esclarecer. Não saiu por suspeição, mas "por questões de ordem práticas e legais". No quinto e derradeiro item de sua nota, o PT "expressa sua solidariedade a João Vaccari Neto e sua família."

Até aqui, o PT se referia aos avanços na investigação Lava Jato como um grande mérito dos governos Lula e Dilma Rousseff. Dizia que ambos equiparam a Polícia Federal e acomodaram procuradores independentes na chefia do Ministério Público Federal. Dizia-se que o juiz Sérgio Moro, por criterioso, não mandara prender o tesoureiro porque não havia provas que justificassem a providência.

Súbito, a alegada competência da PF, a celebrada valentia da Procuradoria e o reconhecido rigor técnico do juiz Moro, tudo isso resultou na "injustificada" prisão de um inocente. De duas, uma: ou tudo o que está na cara não é o que parece ou o PT cerca seu homem-bomba de mimos para evitar que ele exploda atrás das grades.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.