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Josias de Souza

CPI ouve delator que implica Vaccari em caixa 2

Josias de Souza

20/04/2015 04h53

Convertida em palco de desgaste do PT, a CPI da Petrobras levará à vitrine nesta semana Augusto Mendonça Neto, executivo da Setal Óleo e Gás. Ele é um dos cinco delatores da Operação Lava Jato que acusaram João Vaccari Neto de receber em nome do PT propinas provenientes da Petrobras. O depoimento está marcado para as 9h30 de quinta-feira (23).

Essa inquirição não deve trazer à tona nenhuma revelação bombástica. A CPI tem se limitado a virar maçanetas de portas que a Lava Jato já arrombou. Porém, se repetir diante das lentes da TV Câmera o que disse em sua delação premiada, Mendonça Neto potencializará a hemorragia do PT, que sangra em praça pública.

João Vaccari sustenta que não levou dinheiro sujo para a caixa registradora do PT, só donativos legais. Essa fábula já foi desmontada pela força-tarefa da Lava Jato. Os investigadores constataram que o operador do PT converteu propinas em financiamento de aparência legal, registrado na prestação de contas à Justiça Eleitoral. E Mendonça Neto revelou que Vaccari serviu-se também do caixa dois.

Segundo o delator, Vaccari lhe determinou que repassasse R$ 2,5 milhões em propinas extraídas de contratos firmados com a Petrobas para a Editora Atitude, controlada por dois sindicatos filiados à CUT e ligados ao PT: o dos Bancários de São Paulo e o dos Metalúrgicos do ABC. Parte desses repasses já foi devidamente atestada por meio de extratos bancários. Coisa de R$ 1,5 milhão.

Signatário da ordem de prisão de João Vaccari, o juiz Sérgio Moro, do Paraná, anotou em seu despacho, expedido há cinco dias: "Observo que, para esses pagamentos à Editora Gráfica Atitude, não há como se cogitar, em princípio, de falta de dolo dos envolvidos, pois não se tratam de doações eleitorais registradas, mas pagamentos efetuados, com simulação, total ou parcial, de serviços prestados por terceiros, a pedido de João Vaccari Neto".

Como se fosse pouco, quatro meses depois de começar a receber os repasses ordenados por Vaccari, em 2010, a gráfica dos sindicatos foi condenada pela Justiça Eleitoral por fazer propaganda ilegal em favor da então candidata à Presidência Dilma Rousseff. A gráfica rodou 360 mil exemplares da Revista do Brasil com uma entrevista da candidata petista. O título de capa era: "A vez de Dilma."

Juntando todos esses elementos, os antagonistas do PT vão dispor de farta matéria-prima para aprofundar a sangria do partido e fustigar o governo de Dilma. Deve-se o inferno astral do petismo na CPI a uma aliança não declarada entre as bancadas do do governista PMDB e do oposicionista PSDB. Isolado, o PT não exibe capacidade de reação.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.