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Josias de Souza

PMDB tornou-se a mosca de sua própria sopa

Josias de Souza

23/04/2015 18h47

A crise do segundo mandato de Dilma deu ao PMDB uma rara sensação de utilidade pública. O PMDB agora está em todos os lugares. Toda tentativa de destruir o PMDB o coloca mais próximo do controle. Até quem o despreza convoca o PMDB. Um estômago, eis a imagem que melhor retrata o PMDB. Um estômago de terno e gravata, devorando cada pedaço do poder à sua volta com a flatulência de um organismo hipertrofiado.

Enquanto o PSDB decide se propõe o impeachment ou compra uma bicicleta, o PMDB faz oposição ao governo. Enquanto o PT puxa o tapete de Joaquim Levy, o PMDB estende a mão ao ministro da Fazenda. O PMDB assina o projeto que reduz a 20 o número de ministérios e indica ministros para as pastas cuja extinção defende. O PMDB frequenta a lista suja da Lava Jato e, estalando de pureza moral, controla a CPI da Petrobras. O PMDB faz e o PMDB desfaz.

Sem rivais capazes de detê-lo, o PMDB foi tomado de profundo tédio patriótico. O PMDB virou um esquizopartido. Ou, por outra, o PMDB tornou-se uma espécie de clínica terapêutica para tratar as loucuras dos peemedebistas. De repente, o PMDB passou a conspirar contra o PMDB.

Renan e Cunha açulam o condomínio governista contra Dilma. Temer rearticula a unidade da base congressual. Na Câmara, Cunha desengaveta o projeto da terceirização. No Senado, Renan promete reengavetar. Jucá triplica a verba destinada aos partidos. Dilma sanciona. E Renan, unha e cutícula com Jucá, desanca Dilma por não ter vetado o descalabro.

O PMDB autoflagela-se como um Napoleão guerreando contra si mesmo numa Waterloo imaginária. O PMDB tornou-se a mosca de sua própria sopa. Não demora e o PMDB sairá em passeata pelas ruas. No pelotão de frente, Renan, Cunha, Jucá e Temer marcharão atrás de uma grande faixa. Nela, estará escrito: "Será que nós temos que fazer tudo nessa joça?" O Brasil jamais será o mesmo depois desta época.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.