Topo

Josias de Souza

Governo liquida cargos antes de votar o ‘ajuste’

Josias de Souza

02/05/2015 20h59

Às vésperas do início da votação do ajuste fiscal, o governo Dilma Rousseff promove no Congresso uma espécie de liquidação de cargos. Distribui aos aliados posições de comando em órgãos públicos federais localizados nos Estados. É o chamado terceiro escalão da máquina estatal. O Planalto distribui poltronas na expectativa de receber votos. Entram no toma-lá-dá-cá poltronas em vários ministérios. Entre eles Transportes, Trabalho, Previdência, Agricultura e Pesca.

Coordenadores das bancadas estaduais de diferentes legendas reúnem-se a portas fechadas para ratear os cargos. Em pelo menos quatro Estados os partidos governistas já concluíram a partilha: Tocantins, Goiás, Sérgipe e Piauí. Os nomes seguem para o gabinete do vice-presidente Michel Temer, coordenador político do governo. Auxilia Temer na administração dos interesses fisiológicos do conglomerado pró-Dilma o ministrio Eliseu Padilha (Aviação Civil).

Não é a primeira vez que um governo leva o terceiro escalão ao balcão. A prática atravessa os governos. Ao longo do tempo, perdeu-se um elemento essencial: o recato. São dois os efeitos mais nefastos dessa prática. Num, aniquila-se a hierarquia. Os indicados subordinam-se aos seus padrinhos, não aos superiores hierárquicos. Noutro efeito, instalam-se nas repartições públicas novos escândalos esperando para acontecer.

Simultaneamente, o governo inaugurou na internet um site com explicações sobre o ajuste fiscal. Nele, vende-se a tese segundo a qual Dilma "ajusta" a economia para "avançar" nas conquistas. Nem sinal de autocrítica sobre os erros do primeiro mandato de Dilma. Num instante em que o pedaço desenvolvido do mundo começa a virar a página da crise, o governo brasileiro continua atribuindo sua ruína apenas à crise econômica internacional (repare no vídeo abaixo).

.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.