Topo

Josias de Souza

Peça em suas preces: vida longa para Pizzolato

Josias de Souza

04/05/2015 19h47

Preso na Itália à espera da extradição para o Brasil, o mensaleiro Henrique Pizzolato recebeu a visita do senador italiano Carlo Giovanardi. Durante a conversa, fez uma declaração dramática. Segundo seu interlocutor, Pizzolato afirmou que "prefere morrer a descontar a pena por anos em uma penitenciária do Brasil."

A frase de Pizzolato faz lembrar comentário do ministro petista José Eduardo Cardozo (Justiça), numa palestra para empresários, em novembro de 2012: "Do fundo do meu coração, se fosse para cumprir muitos anos em alguma prisão nossa, eu preferia morrer", dissera Cardozo na ocasião.

Entre o comentário do ministro da Justiça e o desabafo de Pizzolato, passou pela penitenciária brasiliense da Papuda a porção mensaleira da direção do PT. José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoino e João Paulo Cunha sobrevieram à experiência.

Condenado a 12 anos e 7 meses de cana, Pizzolato vai demorar um pouco mais para deixar o regime fechado. Mas o companheiro deveria levar em conta o lado bom das coisas. Encarcerado na Papuda, o ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil pode se redimir de seus crimes prestando um inestimável serviço ao país.

Com suas críticas, Pizzolato ajudará a aperfeiçoar o sistema carcerário nacional. Considerando-se que até os grandes empreiteiros da Lava Jato já amargaram os seus dias de conchonete na hospedaria paranaense da PF, as cadeias brasileiras podem estar a um passo da revolução.

Dependendo dos desdobramentos dos inquéritos da Lava Jato, a moda de prender corruptos e corruptores pode pegar no Brasil. Nessa hipótese, a melhoria das condições carcerárias pode ser uma mera questão de tempo.

Para começar, Pizzolato pode sugerir a qualificação do cardápio: frutas e sucos no café da manhã, carnes brancas e vermelhas para o almoço, opções light para o jantar. A cidadania italiana do preso é a certeza de que ele não terá dificuldades para indicar os melhores vinhos.

Inseridas no velho sistema, as inovações destoarão no início. Mas, as empreiteiras logo sugerirão ao governo a construção de modernos complexos penitenciários —sauna, piscina, salas de música e auditórios para as palestras de readaptação.

Resta aos brasileiros de bem gritar diante de todos os altares: "Vida longa para Pizzolato."

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.