PT já não se reconhece em Dilma. E vice-versa!
O PT e Dilma tornaram-se sócios de um empreendimento crivado de ironias. Por um desses caprichos do destino, o partido exibe um programa de dez minutos em rede nacional nesta terça-feira, mesmo dia em que a Câmara começa a votar o ajuste fiscal do governo. Em vez de apoiar enfaticamente a iniciativa, a legenda sobe no telhado. Enquanto o Planalto mobiliza sua infataria para restringir a concessão de benefícios trabalhistas e previdenciários, o PT se dirige ao planeta Marte, pregando um ajuste que proteja os mais pobres e preserve os direitos dos trabalhadores.
Dilma, por sua vez, preferiu não participar da propaganda petista. É a primeira vez que ela se ausenta de um programa do gênero desde que virou presidente. Achou melhor não roçar sua já arranhada imagem nas manchas de óleo queimado que sujam a logomarca do PT. É como se o petismo e a presidente se olhassem no espelho e tivessem sobressaltos. Ambos perguntam a si mesmos: o que você está fazendo aí? Ou: por que você anda em tão má companhia?
Os petistas não estavam preparados para Dilma 2, a caída em si. No propinoduto da Petrobras, os companheiros atingiram o ápice do cinismo capitalista. Mas no ajuste fiscal comportam-se como ingênuos socialistas distraídos sendo usados por um governo terceirizado ao Bradesco. Pela corrupção, abandonaram seus ideais. Por Joaquim Levy, teriam de aderir ao inimigo.
Dilma encontrou a solução na semântica. Chama a rendição de amadurecimento. O PT, porém, ainda se preocupa com o que a posteridade falará dele quando puder se manifestar. A posteridade pode mesmo ser traiçoeira. Mas sem algum tipo de ajuste, o flagrante do PT que ficará fixado para a posteridade já está escolhido. No futuro, quando for necessário identificar a legenda para os mais jovens —Bolsa Família?, Fome Zero?, Pronatec?— bastará lembrar a conjunção da falta de ética com a ruína econômica e o problema estará resolvido. "Ah, aquele era o PT?"
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