Topo

Josias de Souza

PSDB exibe ressentimento na TV, falta projeto

Josias de Souza

09/05/2015 19h08

. 

Em 'Grande Sertão: Veredas', Guimarães Rosa, com sua linguagem peculiar, ensinou: "…a gente carece de fingir às vezes que raiva tem, mas raiva mesma nunca se deve tolerar de ter. Porque quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a ideia e o sentir da gente: o que isso era falta de soberania, e farta bobice, o fato é."

O PSDB começa a exibir neste domingo (10) seu pacote semestral de propaganda partidária. Primeiro, vão ao ar pequenos "aperitivos" de 30 segundos. Em 19 de maio, será servido o prato de resistência: um programa de 10 minutos, em rede nacional de rádio e tevê, no horário nobre. Considerando-se a peça inaugural, disponível acima, o tucanato tornou-se prisioneiro dos seus ódios. Tem tanta raiva do petismo que se deixa governar pelo inimigo.

Há na propaganda tucana apenas ressentimento. Faltou projeto. Mantida essa toada, o PSDB corre o risco de desperdiçar o seu próprio tempo. De quebra, atiçará a impaciência da plateia. O diretor se chama Guillermo Raffo. Mas bem poderia ser chamado de João Santana. Repete contra o PT a mesma marquetagem do medo usada contra o PSDB na campanha presidencial de 2014. Se você ainda não notou a semelhaça, reveja o vídeo do PT abaixo.

.

No comercial do PSDB, uma família sob a chuva é surpreendida pela mão invisível do Estado, que lhe puxa o guardachuva, enquanto o locutor enumera: "Economia parando. Preços subindo. Desemprego aumentando. E justo agora, quando você mais precisa, o governo aumenta os impostos, a luz, os juros, a gasolina e quer cortar o seguro-desemprego. Quando você mais precisa, o governo quer que você pague a conta dos erros que ele cometeu. Chega! PSDB, oposição a favor do Brasil."

Como vingança, o comercial é fabuloso. O pedaço do eleitorado que que vota em tucano terá orgasmos de satisfação. Como estratégia política, a peça contém o que Guimarães Rosa definiria como "farta bobice". O brasileiro que tenta enxergar uma réstia de sonho no fim do pesadelo em que se converteu o segundo mandato de Dilma não precisa que lhe digam o óbvio. Ele sente o drama no bolso. Sobra-lhe mês no fim do salário. Raiva esse cidadão já tem. O que ele procura é alternativa.

Continua boiando na atmosfera de 2015 o mesmo sentimento de mudança que levou Aécio Neves a roçar em Dilma Rousseff no segundo turno de 2014. A marquetagem de João Santana, por enganosa, virou caso de Procon. A imitação tucana é a reiteração de um erro. Uma evidência, diria Guimarães Rosa, de que o petismo governa as ideias do tucanato. Torcer o braço de madame não resolve o problema. O PSDB precisa informar o que faria de diferente se um bicudo como Aécio estivesse encarregado de tocar o expediente.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.