PDT é infiel a Dilma, mas quer manter ministério
Em crise com o Planalto, o PDT reúne nesta sexta-feira, no Rio de Janeiro, seu diretório nacional. O encontro ocorre sob o impacto das votações do pacote fiscal de Dilma Rousseff na Câmara. A bancada de 19 deputados do PDT votou 100% unida contra o Planalto. Imaginou-se que, por coerência, o diretório pedetista discutiria a hipótese de romper com o governo. Mas o assunto nem sequer foi incuído na pauta. O PDT não cogita desocupar o Ministério do Trabalho. Quer manter com Dilma um casamento muito conveniente, em que a fidelidade é facultativa.
A reunião ocorrerá no Rio de Janeiro. Será longa —começa pela manhã, por volta de 10h, e termina no início da noite, às 18h. A pauta inclui: reforma política, maioridade penal e modelo econômico. O debate sobre economia será guiado por documento da secretaria de Assuntos Econômicos e Desenvolvimento do PDT. Nele, o partido defende o avesso do que Dilma vem fazendo. A presidente se esforça para revitalizar o tripé que dá estabilidade à economia desde a gestão tucana de FHC. Na contramão do governo, o texto do PDT anota a certa altura:
"É entendimento que nossa agremiação partidária não meça esforços em propor e defender a superação do atual modelo econômico com bases neoliberais —baseado no tripé metas de inflação, superávit primário e câmbio flutuante. […] Para isso, então, devemos priorizar uma reforma tributária, atingindo progressivamente os lucros e as grandes fortunas, principalmente do setor financeiro, onde somente em 2014 os cinco maiores bancos obtiveram lucros superiores a R$ 60 bilhões."
A menção aos lucros dos bancos não é gratuita. O ministro Joaquim Levy (Fazenda) foi içado por Dilma da diretoria do Bradesco. Em conversa com Carlos Lupi, presidente do PDT, o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) disse que o governo gostaria de voltar a contar com os votos do PDT no Congresso. Ficou entendido que, para Dilma, a fidelidade não é facultativa.
Em reunião preparatória, Lupi endossou o comportamento da bancada federal do PDT, que votou contra a restrição de benefícios trabalhistas e previdenciários. "Enquanto eu estiver à frente do partido, não há hipótese de o PDT ir para a direita", disse ele, há quatro dias. "Nosso lado é o do coração." Ele acrescentou: "Apoiamos o governo, mas não abrimos mão da defesa do trabalhador. E ninguém nos fará votar contra os interesses dos trabalhadores."
Tomado pelas palavras, Lupi não parece contemplar tampouco a hipótese de aderir à oposição. "Não faremos coro com os falsos moralistas do PSDB." Para o mandachuva do PDT, sua legenda tem um papel dialético a exercer na administração Dilma. "O governo está em uma rota perigosa. E o nosso papel é dizer 'não, não vão por aí'." A julgar pela irritação de Dilma com o compartamento da bancada do PDT, a presidente da República dispensa os ensinamentos do PDT. Prefere que Lupi lhe assegure os votos do partido no Congresso.
Único representante do PDT na Esplanada, o ministro Manoel Dias (Trabalho) não foi ouvido na fase em que o governo elaborou o ajuste que restringe direitos trabalhistas. Em manifestação pública, ele lavou as mãos: "A bancada do PDT tomou a posição que considerou mais correta na votação da Medida Provisória 665 que altera as regras de concessão do seguro-desemprego e do abono salarial."
A passividade do ministro diante da posição de sua bancada pegou muito mal no Planalto. Hoje, Manoel Dias é tratado por auxiliares de Dilma como um candidato a ex-ministro. Mas o Planalto não cogita, por ora, retirar a pasta dos domínios do PDT. Como a legenda também não tem a intenção de abandonar a boquinha, a coisa vai ficando como está. Uma evidência de que na política, como na vida, quando o matrimônio é pautado pelo interesse, vira patrimônio.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.