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Josias de Souza

Cunha virou Napoleão que descoroa a si mesmo

Josias de Souza

26/05/2015 02h38

Na condução da reforma política, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) atingiu o ápice da eficiência. Ele mesmo criou uma comissão especial, ele mesmo escolheu o relator, ele mesmo jogou no lixo três meses de trabalho da comissão, ele mesmo fez de idiota o relator, destituindo-o do posto com humilhação.

"Fizemos papel de bobo", disse Marcelo Castro (PMDB-PI), o relator que Cunha abençoou e excomungou. "Três meses trabalhando arduamente e não vamos votar o relatório, que já está pronto há 20 dias. O relatório era só 99% do que ele queria. Mas ele queria 100%."

Sem um relatório, as propostas de alteração no rito político-eleitoral vão à sorte dos votos no plenário da Câmara. Pode sair dali qualquer tipo de reforma. Inclusive nenhuma.

Autoconvertido em Napoleão da Câmara, Eduardo Cunha ainda não encontrou pela frente ninguém capaz de detê-lo. Com tédio do poder, dedica-se agora a desfazer o que ele próprio fez. Como um imperador se descoroando, o deputado planeja sua própria Waterloo. Sob atmosfera burlesca, virou um duque de Wellington de si mesmo.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.