Câmara obriga gênio Cunha a entrar na garrafa
Histórias de gente tirando gênios da garrafa são comuns. O incomum é história de gente obrigando o gênio a entrar de novo. Foi mais ou menos o que o plenário da Câmara fez na noite passada com seu presidente, Eduardo Cunha, ao derrotar suas duas prioridades na reforma política: a adoção do chamado "distritão" e a inserção das doações eleitorais de empresas no texto da Constituição.
O distritão foi à breca com inesperada facilidade. Votaram contra 267 deputados. A favor, 210. Houve duas abstenções. A constitucionalização das arcas de campanha precisava de 308 para prevalecer. Obteve apenas 264. Votaram contra 207 deputados. Foi um resultado surpreendente. Ficou entendido que o gênio Cunha também está sujeito à condição humana.
Foram as primeiras derrotas de Eduardo Cunha desde que assumiu o comando da Câmara, em fevereiro. Ele as construiu sozinho. Conforme já foi comentado aqui, Cunha autoconverteu-se numa espécie de Napoleão legislativo. E passou a comportar-se como um imperador se descoroando. Parecia planejar sua própria Waterloo. Conseguiu.
Nas votações sobre o sistema eleitoral, todos fracassaram. O PT ambicionava a lista fechada. Não passou. O PSDB sonhava com o voto distrital misto. Nada feito. A diferença é que essas eram derrotas anunciadas. Serviriam para preparar o grand finale do distritão. Deu chabu.
Eduardo Cunha pavimentou suas derrotas ao passar o trator sobre a comissão especial da reforma política. Uma comissão que ele mesmo havia criado. De quebra, humilhou o relator da comissão, deputado Marcelo Castro. Que ele próprio escolhera. Chamou-o de pouco inteligente, mandou seu relatório ao lixo e firmou com os líderes partidários um acordo que permitiu levar a reforma direto para o plenário.
O gênio da Câmara cometeu um erro primário. O velho Jânio Quadros já ensinava: política é como fotografia —se você mexe muito não sai. Por ora, tudo permanece como antes. Nesta quarta, as fornalhas do plenário da Câmara serão reativadas.
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