Pelé apoia o Blatter, logo os pés do rei existem
Pelé foi a Havana para emprestar o brilho de sua presença a uma partida de futebol do Cosmos de Nova York, seu ex-clube, contra a Seleção de Cuba. O rei mal pisou o solo da capital cubana e já foi abalroado por uma questão sobre o escândalo da Fifa. Perguntaram-lhe o que achou da reeleição de Joseph Blatter para o seu quinto mandato como presidente da entidade. Foi "perfeito", disse Pelé, sem titubeios.
"Eu era a favor", reforçou Pelé, como que decidido a não deixar nenhuma réstia de dúvida quanto à sua preferência por Blatter. "Era preciso porque é melhor ter gente com experiência." Hummmmmmmm!?!?! Quando alguém como Pelé enaltece a experência de um personagem como Blatter é porque ainda não adquiriu experiência suficiente para calar a boca.
Há 40 anos, o cronista Nelson Rodrigues escreveu: "Perguntem a qualquer zebra do jardim zoológico, ou a qualquer paralelepípedo de Boca do Mato: 'Qual é o maior jogador do mundo?'. Todos os paralelepípedos e todas as zebras dirão, numa cálida unanimidade: 'Pelé'. […] Como se sabe, o homem é o mais polêmico dos seres. Há um ponto, porém, que não admite nenhuma dúvida, nenhum sofisma. Do esquimó ao chinês, do russo ao alemão, do patagônio ao egípcio, todos acham que Pelé realmente é o grande craque do presente, do passado e do futuro."
Tudo continua atual no retrato pintado por Nelson Rodrigues. No gramado, o homem é uma eufórica e eterna unanimidade. Fora de campo, é o mais polêmico dos seres. Ao avalizar a recondução de Blatter, Pelé exagerou. Ficou demonstrado que não tem pelas mãos o mesmo apreço que sempre teve pelos pés. Do contrário não se atreveria a levá-las ao fogo por um personagem como o mandachuva da Fifa. Diante da roubalheira sob investigação na entidade, Blatter está condenado a encenar um entre dois papeis: tolo ou cúmplice.
Vivo, René Descartes diria: "Pelé não pensa, logo apenas os pés do gênio merecem existir."
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