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Josias de Souza

Romário: apoio de Pelé a Blatter é ‘vergonhoso’

Josias de Souza

01/06/2015 19h21

O senador Romário (PSB-RJ) considerou "vergonhoso" o apoio de Pelé à quinta reeleição de Joseph Blatter para o posto de presidente da Fifa. Em viagem a Cuba, Pelé definiu como "perfeito" o triunfo de Blatter. Por quê? "Era preciso porque é melhor ter gente com experiência." E Romário: "O que o Pelé tinha de gênio, de inteligente, pelo que vejo, ele perdeu a partir do momento que encerrou a carreira."

Em conversa com o blog, Romário disse que continua atual um antigo comentário que fez sobre o mesmo personagem: "O Pelé calado é um poeta. A frase, infelizmente, tem que ser repetida. Não tem outro jeito. Essa manifestação é mais uma entre tantas."

"Eu respeito o Pelé, não quero fazer nenhuma declaração que desmereça o que ele representa para a gente. Mas ele, nos últimos três ou quatro anos, tem sido para mim uma decepção muito grande. Você tem o direito de fazer as suas colocações. Mas, cara, o Pelé não pode estar de acordo com o quinto mandato de um presidente como o Blatter. Está mais do que nunca demostrado que a Fifa é corrupta."

Romário prosseguiu: "A investigação ainda não acabou. Muitas coisas vão acontecer. Pode ocorrer inclusive a prisão do Blatter. Eu pergunto: amanhã, o que o Pelé vai dizer?. O cara não pode elogiar a experiência do Blatter diante de tudo isso que está acontecendo. Estou há quatro anos e meio na política. Nunca vou querer ter na minha vida essa experiência que eles têm na Fifa e que outros políticos também têm —experiência para fazer o mal, fazer sacanagem. Isso não é experiência boa para ninguém!"

Na opinião de Romário, Pelé corre o risco de ser mal interpretado. "Não estou dizendo que é isso o que acontece, mas quem está de fora acaba pensando o seguinte: Pô, esse cara com certeza tem alguma parade com a Fifa. É assim que é. Ninguém fala isso por falar —99,9% das pessoas estão contra o que acontece na Fifa. O Pelé não pode ser o único a favor. Ele não tem argumento. Dizer que o Blatter é experiente! Experiência como essa não serve para ninguém."

Ao longo da conversa, Romário utilizou quatro adjetivos para classificar a manifestação de Pelé: "Foi uma afirmação (1) lamentável e (2) triste. Sobretudo vindo do do jogador do século", disse de saída. "Tenho notado que opiniões (3) catastróficas como essa têm reduzido a importância que as pessoas dão às coisas que o Pelé fala. O Pelé não pode mais entrar nessas bolas divididas", acrescentou mais adiante. Súbito, Romário soou como se tivesse encontrado o adjetivo que melhor resume sua opinião: "É (4) vergonhoso, a palavra é essa."

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.