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Josias de Souza

‘O mau humor hoje não é gratuito’, declara Lula

Josias de Souza

03/07/2015 15h59

Lula cutucou a paciência dos brasileiros nesta sexta-feira. Foi a um encontro da Federação Única dos Petroleiros, em Guararema (SP), e disse que não há razões para o azedume do brasileiro.

"O mau humor hoje não é gratuito. Tem gente que ganha quando caem as ações da Petrobras. Eles compram para vender na alta", afirmou Lula, como se não tivesse nada a ver com ruína que empurrou a maior estatal do país para a gangorra da Bolsa de Valores.

"Acho que tem gente que dá notícia negativa todo dia, para criminalizar o PT e as esquerdas", declarou Lula, como se a imprensa tivesse inventado a Operação Lava Jato com suas 18 delações premiadas. E como se Renan Calheiros e Fernando Collor, ex-controladores ocultos da Transpetro e da BR Distribuidora, fossem "as esquerdas".

"Não há espaço para sermos negativos neste país, é só olhar o que nós éramos e o que somos hoje", queixou-se Lula, como se vivesse num país de fábula, imune à inflação fora de controle, à paralisia econômica e à volta gradativa do desemprego.

"Estamos vivendo tempos difíceis, mas vamos consertar. E é isso que a presidenta Dilma está fazendo neste momento", embromou Lula, como se Dilma Rousseff fosse uma presidente estalando de nova, não aquela supergerente que ele vendera em 2010, para acomodar no "volume morto" dias atrás.

"Se vocês quiserem um brasileiro que tem orgulho da Petrobras, ele está aqui. Um brasileiro que não tem vergonha de dizer que sente orgulho da Petrobras", vangloriou-se Lula, seis dias depois de a Petrobras ter anunciado um corte de 37% no seu plano de investimentos até o ano de 2019.

"Se alguém de dentro ou de fora fez alguma sacanagem, ou roubou a Petrobras, essa pessoa que pague", realçou Lula, como se as petrorroubalheiras não tivessem nascido na sua administração.

"E que os trabalhadores da Petrobras não sejam punidos", rogou Lula, como se a força-tarefa da Lava Jato não tivesse identificado e gravado a marca do Zorro na testa dos ex-diretores nomeados na gestão para privatizar a Petrobras aos interesses partidários e patrimoniais.

"O vazamento [das delações da Lava Jato] tem interesse. É para pegar alguém ou acusar um partido", ralhou Lula, como se preferisse que a imprensa não imprensasse. Ou, por outra, como se ignorasse que o problema é o roubo, não as notícias sobre o assalto.

"A pessoa só pode ser chamada de ladrão quando provar que é ladrão, não pode criminalizar a pessoa antes de ser julgada", ensinou Lula, como se tivesse esquecido o passado daquele sindicalista barbudo que chamava José Sarney de "ladrão".

"A luta dos trabalhadores não pode ser eminentemente econômica. Tem que pensar em outras coisas. […] Tem de, sobretudo, defender a democracia deste país, o Estado de direito. Porque não foi fácil o que conquistamos até agora. Não podemos abdicar disso", pediu Lula aos petroleiros, como se a democracia brasileira não estivesse funcionando bem —tão bem que suporta até a decepção de um ex-metalúrgico voando em jatinhos de empreiteiras, de um ex-PT convertido em usina coletora de dinheiro sujo, e de um ex-líder estudantil que, detido em prisão domiciliar, pede habeas corpus preventivo à Justiça para não voltar para o xilindró.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.