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Josias de Souza

Equação: na Câmara, OP tem de ser igual a EC

Josias de Souza

07/07/2015 06h31

A Câmara inicia na noite desta terça-feira (7) o segundo turno da votação da proposta de reforma política. Os deputados retornam ao tema nas pegadas da divulgação de uma pesquisa incômoda: já aprovada em primeiro turno, a contribuição de empresas para partidos políticos é rejeitada pela grossa maioria do eleitorado: 74%. Concordam com o financiamento privado das eleições apenas 16% dos eleitores, informa o Datafolha. Outros 10% preferiram não opinar.

Há uma semana, Eduardo Cunha havia se escorado em outra pesquisa, também do Datafolha, para celebrar a aprovação da emenda constitucional que reduz a maioriadade penal de 18 para 16 anos.

"Cumpri o compromisso de colocar em pauta as demandas da população. E, nesse caso, 87% do Brasil é a favor", dissera o presidente da Câmara, antes de sapatear sobre seus críticos: "Mesmo sob os protestos de uma minoria, o resultado foi a vontade do povo, que está com grito da impunidade entalado na garganta há muito tempo."

De repente, a 'OP', também conhecida como Opinião Pública, ficou sabendo que sua opinião tinha um prestígio insuspeitado junto a 'EC', o presidente da Câmara. Algo surpreendente, já que a 'OP' nunca desfrutou desse cartaz todo no Legislativo. Só de raro em raro deputados e senadores fazem ou deixam de fazer qualquer coisa com medo da reação da Opinião Pública.

Pois bem, durou pouco, muito pouco, pouquíssimo o apreço de 'EC' pela 'OP'. Informado sobre a aversão da Opinião Pública à transferência de dinheiro das empresas para a política, o mandachuva da Câmara transtornou-se.

Eduardo Cunha questionou a metodologia do Datafolha, que há poucos dias lhe servia de referência —"Eu não vi essa pesquisa e tem que ver como foi feita a pergunta". Desqualificou a entidade que encomendou a sondagem —"A OAB não tem muita credibilidade há muito tempo."

Moral: Na Câmara, a equação só fecha quando 'OP' é igual a 'EC'.

Moral dois: a opinião da Opinião Pública é muito importante. Mas o dinheiro ainda fala mais alto.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.