Lava Jato vai muito além da delação premiada
Arrastada para o epicentro da Operação Lava Jato pelo delator Paulo Roberto Costa, a Odebrecht especializou-se na emissão de notas imperiais. Em outubro de 2014, o presidente da empreiteira, Marcelo Odebrecht, deitou sobre o papel o seguinte: "Neste cenário nada democrático, fala-se o que se quer, sem as devidas comprovações, e alguns veículos da mídia acabam por apoiar o vazamento de informação protegida por lei, tratando como verdadeira a eventual denúncia vazia de um criminoso confesso, que é 'premiado' por denunciar a maior quantidade possível de empresas e pessoas."
Nesta sexta-feira, os procuradores da Lava Jato vieram à boca do palco para informar que os imperadores da Odebrecht e da Andrade Gutierrez foram denunciados à Justiça. Entre eles os presidentes das duas empreiteiras: Marcelo Odebrecht e Otávio de Azevedo. Para desassossego dos redatores de notas oficiais, as provas pareceram abundantes e densas. A Procuradoria da República cobra das maiores empreiteiras do país um ressarcimento de R$ 7,2 bilhões.
Valendo-se das delações, a Lava Jato refez o caminho da propina de trás para a frente. Partindo das sardinhas da Petrobras, os investigadores chegaram aos tubarões que frequentam o topo da cadeia alimentar da corrupção. Com a ajuda de autoridades estrangeiras, mapearam-se logomarcas e contas bancárias. Coisa sofisticada, feita para não ser descoberta.
Informações recebidas da Suíça serviram de matéria-prima para que o juiz Sérgio Moro decretasse a prisão de Marcelo Odebrecht e seus executivos pela segunda vez. Estão em cana desde 19 de junho. E permanecerão atrás das grades por tempo indeterminado.
O brasileiro já está autorizado a apertar o botão do otimismo. As jazidas de lama descobertas nos subterrâneos da Petrobras podem resultar em consequências benignas. Sobretudo se as provas reunidas contra os agentes políticos forem igualmente sólidas.
Com sorte, a corrupção brasileira, de proporções amazônicas, pode ser bastante reduzida. Com muita sorte, os governos de Lula e Dilma Rousseff podem ser os últimos a escorar a governabilidade em alianças partidárias podres, baseadas no roubo e na desfaçatez.
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