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Josias de Souza

Lava Jato arranca o brasileiro do sonambulismo

Josias de Souza

29/07/2015 20h28

Desconhecido dos mais moços, o empresário Mario Amato, ex-presidente da Fiesp, escandalizou o Brasil com suas frases. "Somos todos corruptos", disse, por exemplo, em 1997. Ele sustentava a tese segundo a qual o Brasil tolerava toda sorte de irregularidades —da sonegação de tributos às propinas arrancadas da plutocracia pelo caixa de Fernando Collor, o PC Farias.

Decorridos 18 anos de tolerância com as falcatruas, o brasileiro é arrancado do seu sonambulismo pela Operação Lava Jato. Em menos de 48 horas, o juiz Sérgio Moro enviou ao banco dos réus os presidentes das duas maiores construtoras do país —Marcelo Odebrecht, da Norberto Ordebrecht, e Otávio de Azevedo, da Andrade Gutierrez. Ambos estão em cana esde 19 de junho.

Simultaneamente, escorando-se em tabalho minucioso da PF e da Procuradoria, o doutor Moro começou a forçar a porta do setor elétrico, ordenando as primeiras prisões e batidas de busca e apreensão. Não se sabe quem sobreviverá à Lava Jato. Mas, considerando-se a quantidade de pontas disponíveis no novelo, a operação sobreviverá à sucessão de 2018.

Noutra de suas frases célebres, Mario Amato declarou, em 1989, que 800 mil empresários deixariam o país se Lula virasse presidente da República. Nessa época, Lula era o "sapo barbudo". Imaginava-se que, guindado ao Planalto, restauraria a ética. Venceu Fernando Collor.

Lula teve de esperar mais 13 anos, um impeachment e vários escândalos para se eleger presidente da República, em 2002. Antes, beijou a cruz. Barba aparada, ternos bem cortados, o ex-sapo assinou a Carta aos Brasileiros. Com modos de príncipe, comprometeu-se a manter os contratos e a estabilidade econômica. Acabou Mantendo muito mais do que isso. Preservou a ilicitocracia.

Os 800 mil empresários de que falava Mario Amato não fugiram para o estrangeiro. Quem fazia negócios sob a mesa acertou-se com o PT e com todos os esquemas que escalaram o Planalto junto com Lula. Até Fernando Collor se ajeitou. Num primeiro estágio, deu em mensalão. Depois, petrolão. Agora, eletrolão. Vem aí o…

A Lava Jato oferece ao Brasil uma rara oportunidade para provar a si mesmo que não é um país de corruptos.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.