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Josias de Souza

Em nota oficial, PT já não defende José Dirceu

Josias de Souza

03/08/2015 19h00

Em nota divulgada no final da tarde desta segunda-feira, o PT evitou sair em defesa do filiado José Dirceu, ex-presidente da legenda e ex-ministro do governo Lula. Em duas frases, o PT limitou-se a reiterar a sua própria defesa: "O Partido dos Trabalhadores refuta as acusações de que teria realizado operações financeiras ilegais ou participado de qualquer esquema de corrupção", anota o texto. "Todas as doações feitas ao PT ocorreram estritamente dentro da legalidade, por intermédio de transferências bancárias, e foram posteriormente declaradas à Justiça Eleitoral."

Não mudou apenas o PT. O próprio Dirceu se absteve de repetir a coreografia encenada em 15 de novembro de 2013, quando foi preso após a condenação no julgamento do mensalão. Naquela ocasião, a caminho da cadeia, Dirceu fez pose de revolucionário. Aos risos, ergueu o braço e cerrou o punho. Dessa vez, recolhido em casa, onde cumpria prisão domiciliar, entrou no automóvel da Polícia Federal olhando para baixo. Mais magro, trazia na face os vincos da degenerescência.

A ausência de Dirceu na nota do PT não foi irrefletida. O partido tomou distância do ex-todo-poderoso após muita discussão entre seus dirigentes. Os delatores da Lava Jato praticaram um derradeiro assalto. Roubaram o discurso de José Dirceu. O ex-revolucionário, na linguagem da militância petista um 'guerreiro do povo brasileiro', figura nos autos da Lava Jato como beneficiário de propinas destinadas ao enriquecimento pessoal.

Para piorar, vem aí a delação de Renato Duque, o ex-diretor de Serviços da Petrobras, nomeado por indicação de Dirceu no alvorecer do primeiro mandato de Lula. Até aqui, Duque negava participação na pilhagem. Sitiado pelas revelações de outros delatores, dobrou os joelhos. Para que sua colaboração resulte em benefícios judiciais, Duque terá de relatar novidades. Daí a economia de palavras da nota do PT.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.