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Josias de Souza

Tese da nova eleição afasta tucanos do PMDB

Josias de Souza

06/08/2015 19h54

O PSDB toma distância do PMDB ao defender a tese da substituição de Dilma Rousseff por meio da convocação de novas eleições. O tucanato faz isso de propósito. Por duas razões:

1) Deseja sinalizar desde logo que, em caso de impeachment, não cogita participar de uma hipotética gestão de Michel Temer.

2) Avalia que a memória da última disputa presidencial faria de Aécio Neves um candidato favorito.

O TSE deve julgar até o final de setembro a ação em que o PSDB acusa a campanha petista de abuso do poder econômico e político. O tucanato deseja que o tribunal casse os mandatos de Dilma e de Temer. Nessa hipótese, uma nova eleição teria de ser convocada em 90 dias.

O problema é que a chance de o TSE passar na lâmina os mandatos de uma presidente recém-eleita e do seu vice é remota, muito remota, remotíssima. Em privado, o ministro Gilmar Mendes, do STF e do TSE, já disse a vários interlocutores que não crê nessa possibilidade.

Restaria, então, aos defensores do afastamento de Dilma agarrar-se ao TCU. Ali, ocorrerá o julgamento da prestação de contas do governo de 2014. Não são negligenciáveis as chances de os ministros do tribunal de contas reprovarem a escrituração em razão de manobras que ficaram conhecidas como pedaladas fiscais.

A decisão do TCU não terá o peso de uma sentença. Embora carregue o nome de "tribunal", o TCU é mero órgão auxiliar do Congresso, para onde o parecer sobre as contas da gestão Dilma terá de ser remetido.

Caberá ao Congresso a palavra final sobre as contas. Rejeitando-as, os congressistas abririam caminho para a abertura de um precesso de impeachment contra Dilma por crime de responsabilidade. Nesse caso, o mandato de Temer não estaria em questão. Afastada a titular, ele assumiria.

O pedaço do PMDB que articula o afastamento de Dilma se irrita com a defesa que os tucanos fazem da convocação de novas eleições. Afirmam que Aécio e seu grupo erram ao tentar excluir Temer do jogo. E apostam que tucanos como José Serra e Geraldo Alckmin, inimigos cordiais de Aécio, não hesitarão em cooperar com Temer se a crise apertar.

Os partidários de Aécio dizem que votarão a favor do impeachment no Congresso se o pedido vier a ser votado. Mas dizem não trabalhar com a hipótese de compor um eventual governo de Temer, como fizeram na época em que Itamar Franco assumiu a Presidência no lugar de Fernando Collor.

O PMDB é sócio majoritário e responsável solidário pela tragédia em que se trasnformou o governo Dilma, disse um cacique tucano ao blog. Uma associação com Temer vincularia o PSDB às mesmas práticas. No mais, prosseguiu o tucano, ficaríamos vinculados a um fiasco administrativo que poderia nos inviabilizar para a eleição seguinte.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.