Topo

Josias de Souza

Manietada por Renan, Dilma se sente ‘aliviada’

Josias de Souza

13/08/2015 04h49

Uma pessoa pode mudar. Pode até mudar radicalmente de vida —mesmo que uma migração de Che Guevara para Joaquim Levy pareça exagerada. Mas quem conhece Dilma Rousseff se pergunta se algum dia ela imaginou que seu destino estaria tão dependente de um personagem como Renan Calheiros. Na definição de um auxiliar, a reaproximação com o presidente do Senado deixou Dilma "aliviada". Sobretudo "depois do que ela sofreu na semana passada."

Referia-se à humilhação que o plenário da Câmara impôs a Dilma ao aprovar uma 'bomba fiscal' pelo elástico placar de 445 a 16. Nem o PT fechou com o Planalto. Num cenário assim, tão deteriorado, ter Renan de novo do seu lado, para fazer o contraponto a Eduardo Cunha, presidente da Câmara, deixou Dilma "aliaviada" às vésperas de um novo ronco das ruas contra o seu governo, programado para soar no domingo em cerca de 200 cidades.

A esse ponto chegou Dilma: em troca de algumas noites de sono, tolera como sedativo um pesadelo investigado na Lava Jato. Afora o rastro pegajoso, Renan lhe impõe um pacote de projetos cuja viabilidade é inversamente proporcional ao seu tamanho. Eram 28 propostas. Nesta quarta-feira, após reunião de Renan e um grupo de senadores com os ministros da área econômica, o embrulho passou a conter 43 projetos.

A despeito do peso dos seus interesses, Renan move-se com a desenvoltura de um presidente acidental. Antes de coordenar uma reunião de duas horas com os ministros Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento), ele havia sido festejado em café da manhã com Lula e a caciquia do PMDB. Deu-se no Jaburu, residência oficial do vice-presidente Michel Temer. Longe dos refletores, Lula elogiou o protagonismo de Renan e, numa crítica velada a Levy, disse que o governo tem de mudar de assunto. Acha que ninguém alguefalar de ajuste fiscal.

Líder do DEM, o deputado Mendonça Filho ironiza: "Eu já tinha ouvido falar de estacionamento rotativo. Mas presidência rotativa é a primeira vez que vejo. Como Dilma não tem agenda, a Presidência é ocupada semanalmente por um personagem diferente —ora o Eduardo Cunha, ora Renan Calheiros."

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.