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Josias de Souza

Na tevê, Lula e Dilma falam da crise sem culpa

Josias de Souza

22/08/2015 19h51

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No Brasil atual, basta abrir um jornal ou uma carteira para dar de cara com a crise. Na noite deste sábado, dois dias depois de o IBGE informar que a taxa de desemprego bateu em 7,5% no mês de julho, o PT levou ao ar dois comerciais de trinta segundos. Num, Dilma Rousseff admite: "…muita coisa precisa melhorar." Noutro, Lula reconhece: "…a situação não está fácil."

Ambos prometem um Brasil próspero na virada da esquina. "Vamos voltar a crescer com todo o nosso potencial", ela antevê. E ele: "Com o esforço e a luta de todos vamos controlar a inflação, gerar empregos e derrotar o pessimismo. Podem ter certeza. O Brasil vai voltar a crescer."

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Falta algo essencial às mensagens da criatura e do criador: um culpado. No poder há 13 anos, a dupla já não dispõe de um FHC para chutar sem cair no ridículo. E como não conseguem enxergar os responsáveis pela crise no espelho, Dilma e Lula soam cada vez mais desconexos.

É difícil dar crédito às pessoas antes de saber se elas conseguem aprender com os próprios erros. A primeira lição da ruína petista deveria ser a de que todas as premissas sobre as quais Dilma, a supergerente de Lula, construiu a sua política econômica precisam, no mínimo, pegar um pouco de ar.

O diabo é que não se chega ao arejamento sem uma boa autocrítica. Depois que confiou a Fazenda ao ex-diretor do Bradesco Joaquim Levy, Dilma deveria ter dito a si mesma: "Pô, nossa cartilha está ficando igual ao manual do tucanato. Por que é mesmo que a gente era contra o superávit fiscal?"

Sem esse tipo de resposta, metade da nação continuará apavorada porque supõe que a crise econômica, combinada com a roubalheira, só terá fim por um milagre de Deus. E a outra metade se entregará ao pânico porque suspeita que Deus está morto. A gerente infalível, uma incompetente disfarçada, o matou.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.