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Josias de Souza

Renan negocia adesão do PSDB à sua agenda

Josias de Souza

23/08/2015 05h56

Renan Calheiros constituirá nos próximos dias uma comissão especial para cuidar da "Agenda Brasil", idealizada por ele como um balão de oxigênio para Dilma Rousseff, supostamente capaz de retirar da UTI as relações do governo com o Legislativo. O presidente do Senado deseja um colegiado pluripartidário. E ofereceu ao PSDB, principal partido da oposição, a primazia na indicação do relator da comissão.

O tucanato já sinalizou para Renan que não deseja a cadeira de relator da tal agenda. Na terça-feira, em reunião de sua bancada de senadores, o PSDB discutirá se convém indicar representantes para a comissão. Mais próximo de Renan, o senador José Serra é simpático à ideia. Mas ele parece estar em minoria na bancada.

Composta por um conjunto de projetos amarrados em cima do joelho, a agenda de Renan carrega a pecha de ser a peça de resistência de um "acordão". Nessa versão, o governo agiria para aliviar a situação de Renan na Lava Jato e o senador ergueria no Senado um dique para deter as "bombas" disparadas desde a Câmara contra a presidente e o governo.

Há 35 parlamentares sob investigação na Lava Jato —13 senadores e 22 deputados federais. Na semana passada, o procurador-geral da República Rodrigo Janot denunciou ao STF por corrupção e lavagem de dinheiro apenas dois dos encrencados: o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e senador Fernando Collor. A ausência de Renan e dos suspeitos do PT desse primeiro lote de denunciados ofereceu a Cunha matéria-prima para acusar o governo e a Procuradoria de perseguição.

É contra esse pano de fundo que o presidente do Senado se esforça para seduzir o PSDB, atraindo-o para a comissão que debaterá os projetos de sua agenda. Renan agora diz que seu objetivo não é socorrer Dilma, mas o Brasil.

Até companheiros de PMDB duvidam dos propósitos de Renan. Presidente do diretório da legenda na Bahia, o ex-ministro Geddel Vieira Lima, por exemplo, classifica a iniciativa de Renan de "conversa fiada".

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.