Temer escora seu discurso nos erros de Dilma
Alguém já disse, não me lembro quem, que os vices são como ciprestes: só crescem à beira dos túmulos. Num instante em que 66% dos brasileiros acham que o Congresso deveria abrir um processo de impeachment contra Dilma Rousseff, Michel Temer desabrocha. O vice exibe um discurso cada vez mais frondoso. Sua retórica é alicerçada sobre os erros de Dilma.
A tentativa frustrada de Dilma de ressuscitar a CPMF adubou, por assim dizer, os argumentos de Temer. Contrário à volta do tributo desde o primeiro telefonema que recebeu de Dilma para tratar da matéria, o vice firmou-se como contraponto.
O país "não suporta mais" o aumento da carga tributária, disse Temer nesta segunda-feira, em encontro com empresários. Não se pode retirar tributos da cartola "de última hora", acrescentou. "O que a sociedade não aplaude é o retorno repentino de um tributo, como ocorreu com a CPMF."
Temer repetiu algo que dissera a Dilma: se insistisse na volta da CPMF, o governo sofreria uma derrota fragorosa no Congresso. "E a essa altura do campeonato, não podemos nos dar ao luxo de uma derrota fragorosa", lecionou Temer, que presidiu a Câmara três vezes.
Sem mencionar a dificuldade de Dilma em lidar com a autocrítica, Temer declarou: "O governo vem fazendo o possível. Pode errar, mas acho que a melhor coisa a se fazer quando erra é confessar o equívoco."
Temer repisou a tecla da união nacional. Ele exumou a entrevista que abriu uma fenda nas suas relações com o gabinete de Dilma —aquela em que, há três semanas, o vice reconheceu a gravidade da crise e disse que "é preciso que alguém tenha a capacidade de reunificar a todos".
Temer disse aos empresários que só concedeu aquela entrevista porque farejou derrota que o governo sofreria na Câmara. Alguém precisava alertar o país sobre "a gravidade da crise", disse ele. E ninguém fizera isso antes, realçou.
Para Temer, o governo tem de ouvir as ruas e reconstruir sua coligação congressual. Num instante em que Dilma é hostilizada até por seus aliados, Temer sentenciou: "Se não houver apoio político, não se consegue governar." Numa hora em que apenas 8% dos brasileiros aprovam Dilma, o vice acrescentou: "E não basta o apoio político. Tem que ter o apoio dos setores sociais".
Aos pouquinhos, Temer vai assumindo o papel de cipreste.
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