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Josias de Souza

Gestão Dilma está na UTI e Lula diz que é febre

Josias de Souza

07/09/2015 04h15

A plateia pouco pode fazer contra o derretimento econômico e moral da administração pública. Isso não significa que, além de ser tapeada, tenha que ser tratada como uma plateia estúpida. A presidência de Dilma encontra-se na UTI. Deve-se a Lula boa parte da septicemia que paralisou o governo. Foi ele quem criou a fábula da gerentona. Foi nos governos dele que nasceram o mensalão e o petrolão.

A despeito de tudo isso, Lula acha que não deve nada a ninguém. Muito menos explicações. E ainda se julga autorizado a fazer o papel de clínico geral. Afirma que a roubalheira não pode afetar a "governabilidade do país." E sustenta que a ruína econômica é banal: "É como uma febre de 39 graus. Alguém morre por causa disso? É só tomar um remédio e pronto!"

Lula fez o diagnóstico numa entrevista ao jornal argentino Pagina 12. Nela, disse que o impeachment não é remédio adequado. Até porque a crise política também lhe parece trivial: "Não é difícil encontrar uma saída. Hoje temos uma certa insegurança na base de sustentação do governo, por divergências entre a Câmara e o governo, entre os partidos políticos. Mas, se recuperarmos a harmonia política, também poderemos resolver os problemas econômicos."

Ainda que a plateia fosse estúpida e que Dilma virasse a gestora impecável do fabulário petista, Lula ainda teria de responder às seguintes perguntas: o que madame pretende fazer? O que o governo dela tem a oferecer além de mais impostos?

Ninguém lembra o que Dilma propunha na campanha do ano passado. Ainda que lembrasse, não adiantaria. Era empulhação. Fingir que não tem nada a ver com a encrenca pode auxiliar na desconversa de Lula, mas não é uma solução. Se o criador acha que ajuda sua criatura mantendo-se desconectado da realidade, problema dele.

Como diz o vice-presidente Michel Temer, "ninguém vai resistir três anos e meio com esse índice baixo. Se a economia melhorar, acaba voltando um índice razoável. Mas, se ela continuar com 7% e 8% de popularidade, fica difícil." Só há uma maneira infalível de um governante alcançar a popularidade: a prosperidade.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.