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Josias de Souza

FHC: ninguém quer golpe, mas se livrar da crise

Josias de Souza

16/09/2015 20h35

Leandro Moraes/UOL

Fernando Henrique Cardoso lançou em São Paulo, nesta quarta-feira, o livro 'A Miséria da Política', uma coletânea de artigos publicados na imprensa. Provocado pelos repórteres, ele respondeu às declarações Dilma Rousseff, que tachara a oposição de golpista, acusando seus rivais de usar a crise como pretexto para um "golpe". FHC insinuou que o governo Dilma é a "crise" da qual as pessoas querem "se livrar".

Dilma dissera: "Todos os países que passaram por dificuldade, não vi nenhum propondo ruptura democrática como forma de saída da crise. Esse método de usar a crise como mecanismo para chegar ao poder é uma versão moderna do golpe".

E FHC: "Todo mundo está sofrendo a crise. E quem está sofrendo a crise não quer dar golpe, quer se livrar da crise. Na medida em que o governo faz parte da crise, começa a perguntar: 'será que vai durar, não vai durar?' Mas não é golpe não."

Depois de insinuar que Dilma é a crise da qual as pessoas querem se livrar, o ex-presidente tucano, acusado pelo PT de "quebrar o país três vezes", comentou o mais recente pacote fiscal de Dilma, que inclui a recriação da CPMF, tributo criado na era tucana como algo provisório e extinto em 2007, após dez anos de vigência.

"Ninguém gosta de cortar gastos, é natural. Mas esses governos que estão aí levaram o Brasil à ruptura, à quebra. Quebrou o Tesouro. O Tesouro está sem recursos. E a sociedade não quer mais pagar imposto. Então, nós temos um impasse que é muito grande. Ao memso tempo que há necessidade […], a população diz: 'eu não dou porque vocês não estão usando o dinheiro apropriadamente. Esse é o problema que nós estamos vivendo."

Ouça abaixo as declarações de Dilma, feitas a uma emissora de rádio.

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Dilma falou em golpe um dia depois de a oposição ter requisitado ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, a definição sobre o rito de tramitação de um pedido de impeachment. A presidente voltou a tema numa cerimônia de entrega de chaves de casas populares, na cidade de Presidente Prudente (SP): "Qualquer forma de encurtar o caminho da rotatividade democrática é golpe, sim. É golpe. Principalmente quando esse caminho é feito só de atalhos".

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.