Topo

Josias de Souza

Dilma tenta montar ministério anti-impeachment

Josias de Souza

20/09/2015 15h37

Guiando-se por conselhos de Lula, Dilma Rousseff tenta aproveitar a remodelagem da Esplanada dos Ministérios para formar um gabinete capaz de interferir no resultado das votações no Congresso. Preocupa-se sobretudo com a Câmara, a Casa Legislativa que tem a prerrogativa de iniciar um eventual processo de impeachment. É justamente ali que o apoio ao Planalto tem se revelado mais débil.

Nas palavras de um operador político do governo, Dilma precisa de ministros que possam lhe assegurar votos no Parlamento —algo que a atual equipe não vem conseguindo fazer. A prioridade é satisfazer os apetites do PMDB do vice-presidente Michel Temer, beneficiário direto de um eventual afastamento de Dilma. Tenta-se compor não um ministério dos melhores, mas dos politicamente mais rentáveis.

Dilma inquietou-se na semana passada ao ser informada por líderes governistas de que sua infantaria na Câmara soma, numa conta otimista, algo como 200 dos 513 deputados (nos tempos áureos de Lula, o exército aliado roçada a casa das 400 cabeças). Para evitar que a oposição derrube em plenário o eventual arquivamento de um pedido de impeachment, Dilma precisa de 257 votos. Para aprovar uma emenda constitucional recriando a CPMF, necessita de 308 votos.

Dilma realiza dois movimentos paradoxais. Num, discute com sua equipe a extinção de dez dos seus 39 ministérios. Noutro, tenta operar o milagre de renovar a ocupação fisiológica da Esplanada tendo menos pastas para distribuir. No PMDB, por exemplo, dos seis ministérios ocupados pela legenda pelo menos três seriam candidatas naturais à lâmina: Portos, Aeroportos e Pesca.

Espera-se que Dilma chame Michel Temer para uma conversa já nesta segunda-feira (21). O anúncio do enxugamento da Esplanada foi prometido para quarta-feira. Afora os desafios habituais, há um complicador adicional: num governo com o Tesouro em petição de miséria, a poltrona de ministro é menos sedutora. O interesse diminuiu na proporção direta do crescimento dos cortes no orçamento.

Tudo isso e mais a evidência de que um governo que reforma um gabinete empossado há menos de nove meses é um governo fraco. Um pedaço expressivo do PMDB, pragmático ao extremo, se sente mais atraído pelo aroma da perspectiva de poder que emana do gabinete do vice-presidente. O Planalto tenta vicular-se à bancada peemedebista da Câmara por meio do líder Leonardo Picciani (RJ), que enxergou na fragilidade de Dilma uma oportunidade a ser aproveitada.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.