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Josias de Souza

Temer para Dilma: reforma pode piorar situação

Josias de Souza

22/09/2015 03h28

Fábio Pozzebom/ABr

O vice-presidente Michel Temer teve uma conversa franca com Dilma Rousseff na manhã desta segunda-feira. Disse-lhe que a reforma ministerial pode piorar a situação do governo no Congresso.

Temer afirmou que a decisão de enxugar a Esplanada e, simultaneamente, promover uma dança de cadeiras resultará em descontentamentos com potencial para prejudicar a tramitação do pacote fiscal que o governo enviará ao Parlamento.

— A senhora tem certeza de que é a melhor hora para fazer esse movimento?, perguntou Temer a certa altura.

— Eu já anunciei. Vou fazer agora. Preciso fazer agora!, Dilma respondeu, evocando o compromisso que assumira publicamente de anunciar as mudanças no gabinete até esta quarta-feira (23).

— Se é assim, aconselho a senhora a conversar bastante com os líderes dos partidos, para que se faça o mapeamento correto das forças que o governo terá no Congresso.

Sintomaticamente, Temer apressara-se em dizer, já no início da conversa, que abria mão de fazer indicações para o novo ministério.

— Não quero fazer indicação de nenhum nome, para que a senhora fique à vontade para cortar custos e reduzir ministérios. O PMDB quer colaborar com esse objetivo.

Ao longo do dia, Renan Calheiros e Eduardo Cunha ecoaram Temer. Sondados por Dilma, ambos disseram que não cogitam apadrinhar ministros. O presidente do Senado falou com Dilma pessoalmente. O presidente da Câmara conversou com ela pelo telefone. Foi como se a cúpula do PMDB lavasse as mãos, evitando assumir o compromisso de obter votos para Dilma no Congresso em troca dos ministérios.

No seu esforço para evitar que o PMDB lhe escape por entre os dedos, Dilma agarrou-se ao segundo escalão da legenda. Deseja que o líder peemedebista do Senado, Eunício Oliveira, obtenha o endosso de sua bancada para a permanência de Eduardo Braga (PMDB-AM) à frente do Ministério de Minas e Energia. E oferece ao líder do partido na Câmara, Leonardo Picciani (PMDB-PA) a oportunidade de indicar para o primeiro escalão uma pessoa apoiada pelos deputados do partido.

De resto, conforme noticiado aqui, Dilma já pensa até em entregar ao PMDB um ministério do setor social, algo que sempre sonegou à legenda. Foi ao balcão a pasta da Saúde. Que a presidente cogita entregar a um apaniguado do governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, como compensação ao PMDB pela perda de pelo menos duas pastas: a dos Portos e a da Pesca, que vão perder o status de ministério na reforma de Dilma.

 

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.