PMDB entrega para Dilma relação de ‘ministeriáveis’ com aliados de Cunha
O PMDB da Câmara decidiu encaminhar a Dilma Rousseff uma lista de 'ministeriáveis' para que a presidente selecione os dois deputados que irão compor o seu "novo" gabinete. Para a vaga de ministro da Saúde, foram apontadas três alternativas: Manoel Júnior (PB), Marcelo de Castro (PI) e Saraiva Felipe (MG). Para chefiar o ministério que resultará da fusão das pastas da Aviação e dos Portos, indicaram-se quatro nomes: José Priante (PA), Celso Pansera (RJ), Mauro Lopes (MG) e Newton Cardoso Júnior (MG). Dois dos candidatos —Manoel Júnior e Celso Pansera— integram o grupo do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), que dissera que não indicaria ninguém.
Ao identificar as digitais de Cunha na lista, o pedaço do PMDB que defende o afastamento de Dilma revoltou-se. As legendas de oposição, que enxergavam no presidente da Câmara um aliado da causa do impeachment, passaram a acusá-lo de traição. Abordado em plenário, Cunha tentou desvincular-se da escolha dos 'ministeriáveis' do PMDB. Não convenceu os colegas. Marcou para esta quarta-feira um almoço com os líderes oposicionistas.
Manoel Júnior, cotado para a Saúde, não dá um espirro na Câmara sem combinar com Eduardo Cunha. Celso Pansera, apresentado como alternativa para a infraestrutura, levou sua fidelidade ao presidente da Câmara à vitrine na CPI da Petrobras. Ali, especializou-se em apresentar requerimentos incômodos para os delatores que encrencaram Cunha na Lava Jato.
Em depoimento ao juiz Sérgio Moro, o doleiro Alberto Yousseff dissera que havia na CPI um "pau mandado" de Eduardo Cunha que tentava constrangê-lo com requerimentos de quebra dos sigilos bancário e fiscal de suas duas filhas e de sua ex-mulher. Há um mês, durante sessão da CPI, Pansera provocou Yousseff, cobrando dele a identificação do "pau mandado". O doleiro atendeu ao pedido: "É Vossa Excelência." (assista abaixo):
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O processo de seleção dos nomes que o PMDB da Câmara submeteu à análise de Dilma foi confuso. Nem de longe oferece a segurança que Dilma requisitara ao líder pemedebista Leonardo Picciani (RJ). A presidente dissera a Picciani que desejava acomodar na Esplanada ministros que, respaldados pela bancada, tivessem votos na Câmara. Chamada a opinar, a bancada de deputados do PMDB reuniu-se a portas fechadas no início da noite desta terça-feira (22).
Ao final da reunião, informou-se que a indicação dos ministros havia sido aprovada por 42 votos a 9. Lorota. Não houve votação, apenas manifestações orais. Pelas contas do grupo dissidente do PMDB, manifestaram-se a favor de Dilma 27 dos presentes. Falaram contra 12 deputados. Na primeira conta, oficial, havia na sala 51 deputados. Na segunda, apenas 39. Em nenhuma das somas atingiu-se a totalidade da bancada do PMDB, que controla 65 assentos na Câmara.
Ao abrir a reunião, Picciani informou que estivera na véspera com Dilma. Contou que a presidente lhe fizera um apelo para que o PMDB ajudasse o governo a superar a crise. O deputado Jarbas Vasconcelos (PE) pediu a palavra. Disse: "Dilma está nos últimos estertores. O país caminha para o caos completo. Essa visão é generalizada, tanto que Dilma só tem 7%, 8%, 9% de aprovação. Acho inconveniente abrir uma discussão sobre ministérios e sobre uma composição com Dilma. Peço permissão para me retirar. Não quero participar de uma discussão desse tipo." Jarbas foi embora.
Seguiu-se um debate acalorado. Alguns dos que se manifestaram a favor da indicação dos ministros esclareceram que a participação no governo não obriga os deputados a votarem cegamente com o governo. Vários deles esclareceram que se opõem à recriação da CPMF.
A certa altura, incomodado com manifestações contrárias de peemedebistas anti-Dilma, o líder Picciani disse que não indicar ministros corresponderia a um rompimento do PMDB com Dilma. O deputado Lúcio Vieira Lima (BA), adepto do impeachment, se disse surpreso. "Então, quer dizer que o Renan Calheiros e o Michel Temer, que disseram que não fariam indicações, romperam com o governo?" Para Vieira Lima, o PMDB dá as costas à rua ao oferecer ministros a Dilma.
"Pior: esse gesto vai mostrar que os deputados do PMDB só estão apoiando Dilma para obter vantagens", continuou Vieira Lima. "Espero que não aconteça com os nossos o que acontece com os deles. Hoje, os deputados do PT não conseguem sair às ruas ou ir aos restaurantes sem receber vaias e agressões verbais."
Celso Pancera, o "pau mandado" de Eduardo Cunha, disse que é hora de o PMDB "colher" os frutos que plantou ao ajudar a aprovar o ajuste fiscal do governo. E Vieira Lima: "Votei a favor dos ajustes por considerar que era importante para evitar que o Brasil perdesse o grau de investimento. Não sabia que estava plantando uma semente de ministério, para colher agora."
A certa altura, Picciani afirmou que o PMDB aprovara em convenção nacional o apoio a Dilma. E só outra convenção poderia revogar essa decisão. O deputado Osmar Terra (RS) saltou da cadeira. Recordou que Picciani e seu grupo político no Rio romperam com Dilma na campanha de 2014. "Não estou entendendo", disse Terra a Picciani. "A convenção decidiu apoiar Dilma. E você apoiou Aécio Neves. Onde estava o respeito à convenção?"
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