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Josias de Souza

TSE enfia Dilma dentro do enredo da Lava Jato

Josias de Souza

07/10/2015 05h03

Nas próximas semanas, o Tribunal Superior Eleitoral intimará Dilma Rousseff a se defender da acusação de que a caixa registradora de sua campanha em 2014 foi abastecida com verbas roubadas da Petrobras. A presidente terá de se encaixar no enredo criado pela direção do PT e pelo ministro Edinho Silva (Comunicação Social), ex-tesoureiro do seu comitê. Nessa versão, o montante de R$ 7,5 milhões que o delator Ricardo Pessoa diz ter desviado da Petrobras para o comitê de Dilma não passa de "doação legal, registrada na Justiça Eleitoral".

Ao encampar formalmente essa tese, Dilma se autoconverterá numa personagem inusitada —uma combinação de administradora ingênua com candidata distraída. No exercício da presidência do Conselho de Administração da Petrobras, Dilma não viu a invasão dos assaltantes. No palanque eleitoral, usufruiu do produto do roubo. Na noite desta terça-feira, Dilma atravessava o décimo mês do seu segundo mandato distraída quando o TSE decidiu reagir contra a insinuação de que virou uma lavanderia de verbas sujas.

Por 5 votos a 2, o plenário do TSE reabriu uma das quatro ações em que o PSDB pede a cassação dos mandatos de Dilma e do seu vice, Michel Temer. A decisão não representa uma sentença condenatória. Significa apenas que os ministros do TSE já não admitem ser enganados nem tratados como cretinos. Por isso decidiram investigar o que já não pode ser ignorado.

Há três meses, numa entrevista à Folha, Dilma foi instada a comentar a origem ilegal de parte da verba que financiou sua campanha. "Meu querido, é uma coisa estranha", disse ela. "Porque, para mim, no mesmo dia em que eu recebo doação, em quase igual valor, o candidato adversário recebe também. O meu é propina e o dele não?"

O que Dilma disse, com outras palavras, foi o seguinte: Aécio Neves recebeu doações das mesmas empreiteiras que borrifaram cifrões na minha campanha. Se o dinheiro é sujo, a prática de aceitá-lo é generalizada. Ora, se dispõe de informações contra o rival tucano, Dilma deveria denunciá-lo. A idéia de que a verba suja do PT se justifica pela existência do dinheiro mal lavado dos outros não ajuda a restaurar a moralidade. Serve apenas para eternizar a imoralidade.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.