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Josias de Souza

Planalto adota adiamento como plano de gestão

Josias de Souza

09/10/2015 18h48

Ao final de uma semana de derrotas —no Congresso, no TSE, no STF e no TCU— o Planalto concluiu que nenhum problema é tão grande que não caiba no dia seguinte. Ou na semana seguinte. Ou no mês seguinte. Ou até no ano seguinte. Escaldado, o governo adotou o adiamento como estratégia de gestão. quer ganhar tempo para rearrumar a coligação que deveria apoiar Dilma Rousseff no Congresso.

Os operadores políticos da presidente agem para empurrar com a barriga definições estratégicas que dependem do Legislativo. Entre elas a análise dos vetos presidenciais à chamada pauta-bomba, a votação do parecer do TCU que recomenda a rejeição das contas do governo de 2014 e o debate sobre o pedido de abertura de processo de impeachment na Câmara.

Para sossegar os aliados, Dilma autorizou a mais generosa distribuição de cargos de sua gestão. Vão ao balcão posições de segundo e de terceiro escalão nos ministérios e nas autarquias. Entrarão também no saldão poltronas situadas em empresas estatais. Tudo isso num instante em que a força-tarefa da Lava Jato estima em até R$ 20 bilhões o prejuízo causado pelas propinas e superfaturamentos do maior escândalo da história da República.

Novo gerente do balcão, o ministro Ricardo Berzoini, articulador político de Dilma, deu prazo de dez dias para que seus colegas de Esplanada retirem da gaveta os pedidos de nomeação feitos por políticos e ainda não enviados ao Diário Oficial. Enquanto resolve as pendências, o governo passa em revista a composição da Comissão Mista de Orçamento do Congresso.

É nesse colegiado que deputados e senadores começarão a analisar o que fazer com o documento em que o TCU recomenda ao Congresso que reprove as contas de Dilma do ano passado. O governo farejou problemas. E trama requerer a partidos aliados a substituição de membros da comissão. Busca-se uma maioria segura.

No plano de ação do governo, os vetos presidenciais seriam analisados ainda neste ano, entre o final desse mês e o início de novembro. Quanto ao documento do TCU e ao pedido de impeachment, o Planalto tenta empurrar a encrenca para 2016.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.