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Josias de Souza

CPI termina tendo como único feito desmoralização de Eduardo Cunha

Josias de Souza

19/10/2015 06h14

Encerra-se nesta semana a CPI da Petrobras. Paradoxalmente, a comissão extraiu do seu maior fiasco seu único feito. Há seis meses, a CPI serviu de palco para um "depoimento espontâneo" de Eduardo Cunha. Nele, o presidente da Câmara fez pose de vítima de um complô do governo e da Procuradoria da República. Foi elogiado por governistas e oposicionistas. Mas pronunciou a frase que pode lhe custar o mandato parlamentar.

Em resposta a uma das poucas perguntas que lhe dirigiram, Cunha declarou: "Não tenho qualquer tipo de conta em qualquer lugar que não seja a conta que está declarada no meu Imposto de Renda. E não recebi qualquer vantagem ilícita ou qualquer vantagem com relação a qualquer natureza vinda desse processo." Hoje, sabe-se que Cunha mantém uma relação cenográfica com a verdade. Possuía não uma, mas quatro contas secretas na Suíça. Sabe-se também que tais contas escondiam dinheiro roubado da Petrobras.

Afora a auto-desmoralização de Cunha, que lhe caiu no colo, a CPI dedicou-se com sucesso a dois objetivos. Num, forçou portas que a força-tarefa da Lava Jato já tinha arrombado. Noutro, absteve-se de convocar os 35 congressistas suspeitos de receber petropropinas, acendendo o forno que assa o instituto da investigação parlamentar. A CPI deve votar até quinta-feira um relatório inútil, sem sugestões de indiciamento.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.