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Josias de Souza

Grupos pró e anti-Dilma medem força no PMDB

Josias de Souza

21/10/2015 03h54

Temer posicionou-se contra adiamento de Congresso

O PMDB marcou para novembro um Congresso para discutir o futuro da legenda. Com receio de que a ala oposicionista do partido aproveite a oportunidade para aprovar uma moção a favor do rompimento com o governo, o grupo pró-Dilma tentou adiar o encontro para 2016. Houve forte reação. E os peemedebistas avessos a Dilma prevaleceram. Nesta terça-feira, abortaram a manobra protelatória com o apoio do vice-pesidente Michel Temer. O Congresso ocorrerá em 17 de novembro, apenas dois dias depois do previsto.

Revoltado com a tentativa de empurrar o debate para março do ano que vem, quando o PMDB festejará numa convenção nacional seu aniversário de 50 anos, o presidente do diretório do partido na Bahia, Geddel Vieira Lima, entrou na briga dando nome aos bois. Língua em riste, atacou dois dos principais representantes do PMDB no gabinete de Dilma: os ministros Henrique Eduardo Alves (Turismo) e Eduardo Braga (Minas e Energia).

"Henrique e Eduardo Braga trabalham contra o Congresso porque querem transformar o PMDB numa agência de emprego público", ironizou Geddel. "Desejam que o PMDB garanta a sinecura para quem desaprendeu a fazer política fora do governo. Não sabem mais o que é militância. E não querem que o partido debata os problemas do Brasil real, que estão aí, diante dos olhos de todos."

Nas palavras de Geddel, "os empregados do PMDB no governo querem ser mais realistas do que o rei". Por quê? "Lula e o presidente do PT, Rui Falcão, questionam a política econômica de Dilma e pregam a substituição do ministro Joaquim Levy (Fazenda)", disse Geddel. "Com esse tipo de gesto, o PT tira a autoridade de Dilma, deixa a presidente politicamente nua. E o PMDB, tratado como coadjuvante, não pode nem fazer um Congresso para debater o país. Francamente, isso não faz sentido."

Além do PMDB da Bahia, pegaram em lanças contra o adiamento do Congresso partidário diretórios como os de Pernambuco, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Mato Grossso do Sul. O êxito foi, por ora, parcial. O pedaço governista do PMDB cogita agora esvaziar o Congresso, retirando-lhe a densidade política. Em vez dos 4 mil participantes previstos inicialmente, dariam as caras algo como 500 pessoas.

Geddel abespinhou-se: "Quem quiser esvaziar o encontro precisa colocar o rosto na vitrine e arcar com as consequências. Nós, da Bahia, estaremos lá. Outros também irão. Eu disse claramente ao Temer: é inaceitável que o PMDB queira passar a imagem de que é dirigido por uma cúpula congressual que não corresponde à vontade do partido. Tem que ouvir todo mundo. O Congresso do partido não é decisório. Mas, se sair de lá uma moção de rompimento com o governo, terá de ser levada em consideração".

Vice-presidente do PMDB federal, o senador Valdir Raupp (RO) chegou a informar que o partido decidira adiar o seu Congresso, Alegou dificuldades logísticas para reunir mais de 4 mil pessoas em Brasília. E Geddel: "Isso é conversa fiada. Já está tudo organizado, praticamente pronto. O partido gastou dinheiro com isso. Não há justificativa para o adiamento."

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.