PT decide tocar trombone sob telhado de vidro
O PT divulga nesta quinta-feira um documento eleitoral. É a primeira peça pública do planejamento da legenda para as eleições municipais de 2016. Nela, o partido encara a realidade como uma espécie de conto do vigário em que caiu. No seu enredo particular, o PT é sempre vítima de alguém —da mídia monopolizada de direita, da oposição golpista, de delegados e procuradores mal-intencionados… O PT não enxerga vilões no espelho.
A impostura é evidente. Um partido que, em meio ao maior escândalo do planeta, depois de 13 anos saqueando o Estado junto com os esquemas que o acompanharam ao poder, consegue fazer pose de vítima é uma organização 100% feita de cinismo. Aposta na fantasia como uma opção preferível ao caos —ou ao Michel Temer, que a cúpula do PT acha que é a mesma coisa.
O documento do PT informará que uma das prioridades da legenda é defender o mandato de Dilma. Para evitar Temer, o petismo finge que não vê a conversão de Eduardo Cunha em herói da resistência. Antes, o governo convivia com Cunha por obrigação prototolar. Hoje ministros petistas correm atrás do Cunha, cortejam o Cunha, confiam a viabilidade do governo às conveniências do Cunha.
Outra prioridade eleitoral do PT é fazer a defesa do legado de Lula. Um legado de dois gumes: o pedaço representado pelos boas estatísticas sociais e econômicas foi aniquilado no primeiro mandato de Dilma. E a parte da herança referente aos escândalos escorregou suavemente para dentro do governo Dilma. Mas o PT, mesmo com João Vaccari Neto e José Dirceu atrás das grades, não admite ser chamado de ladrão por outros ladrões. Quem haverá de discutir com especialistas?
Nas palavras do presidente do PT, Rui Falcão, a legenda iniciará uma articulação política para "ter melhor diálogo com a sociedade e colaborar para que o governo retome o rumo do crescimento do país." Quem ouve o companheiro Falcão fica tentado a acreditar que o país pode melhorar, deve melhorar, tem que melhorar. Mas qualquer um desanima ao lembrar que o governo convive com a perspectiva de fechar 2015 com um rombo de R$ 100 bilhões nas suas contas.
Na prática, o PT absolve-se dos erros do governo Lula, idealizando-o. E enxerga o governo Dilma como um pesadelo do qual o partido precisa acordar. Na falta de melhor estratégia, a legenda promove um barulho intenso e perturbador. O PT toca trombone sob o seu telhado de vidro.
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