Cunha usa o impeachment para protelar novamente decisão sobre sua cassação
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, adiou para esta terça-feira a sessão em que serão aprovados os nomes dos 65 integrantes da comissão incumbida de analisar o pedido de abertura de processo de impeachment contra Dilma Rousseff. Ele marcou o início dos trabalhos para as 14h. Nesse mesmo horário deveria começar a reunião do Conselho de Ética sobre o pedido de cassação do mandato do próprio Cunha. Pelo regimento, nenhuma comissão ou conselho pode funcionar depois da abertura da 'Ordem do Dia' no plenário. Significa dizer que a votação que põe em risco o mandato do presidente da Câmara pode ser adiada pela quarta semana consecutiva.
A nova manobra de Eduardo Cunha foi facilitada pela atmosfera de revolta que se formou nas bancadas de partidos governistas contra a interferência do Planalto na escolha dos membros da comissão do impeachment. Sob monitoramento do ministro Ricardo Berzoini, coordenador político do governo, os líderes partidários cuidaram de indicar para o colegiado que analisará o pedido de impedimento de Dilma deputados 100% fechados com o governo. Algumas bancadas, sobretudo a do PMDB, se insurgiram contra as decisões dos seus líderes. Os descontentes se acertaram com a oposição e decidiram apresentar nomes alternativos para a apreciação do plenário, que tem a palavra final sobre os nomes, aprovando-os ou rejeitando-os.
A rebelião é maior no PMDB, cujo líder, Leonardo Picciani (RJ), ex-aliado de Cunha, decidira excluir os radicais anti-Dilma da lista de oito representantes da legenda na comissão do impeachment. Mas há focos de insatisfação também em pelo menos mais duas legendas: PP e PSD. Cavalgando essa revolta, Cunha encontrou novo pretexto para atrapalhar uma vez mais o calendário do Conselho de Ética, que não consegue responder a uma pergunta simples: o pedido de cassação do mandato de Cunha deve prosseguir ou ser arquivado?
Cunha alega que o Conselho de Ética, se quiser, terá tempo para deliberar. Embora a sessão da Câmara esteja convocada para as 14h, ele estima que o quórum para o início da "Ordem do Dia" só será alcançado por volta das 17h. Argumenta que o Conselho disporia de algo como três horas para decidir sobre o prosseguimento do processo que pode levar à cassação do seu mandato. Na semana passada, dizia-se a mesma coisa. Mas aliados de Cunha manobraram durante a reunião do Conselho de Ética, esticando a sessão por seis horas, impedindo a votação.
Revoltados com a nova manobra de Cunha, líderes partidários fechados com o Planalto tentam reverter o adiamento da escolha dos membros da comissão do impeachment. O presidente da Câmara dá de ombros. Declara que a chapa avulsa, com dissidentes governistas e representantes da oposição, exige mais tempo para preparar o painel eletrônico do plenário. De resto, Cunha alega que a votação teria de ser adiada de qualquer maneira. Afirma que não há quórum para deliberar na noite desta segunda-feira.
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