PMDB destitui Picciani da liderança na Câmara
Convertido por Dilma Rousseff em interlocutor preferencial do governo no PMDB, o deputado Leonardo Picciani (RJ) deixará de ser o líder da bancada do partido na Câmara. Ele será destituído por meio de um abaixo-assinado subscrito pela maioria dos deputados que imaginava liderar. O documento será protocolado na Mesa Diretora da Câmara nesta quarta-feira. Assumirá a liderança, também por vontade expressa da bancada, o deputado Leonardo Quintão (MG).
"Queremos na liderança um representante da nossa bancada, não um preposto do governo", disse o deputado Osmar Terra (RS), um dos peemedebistas que coletaram assinaturas para apear Picciani da liderança. "O resultado da votação desta terça-feira deixou claro que o Picciani foi desastroso na condução da bancada", acrescentou o deputado, referindo-se à vitória da chapa anti-Dilma na disputa pela escolha dos membros da comissão especial do impeachment.
O PMDB terá oito representantes na comissão do impeachment. Picciani havia negociado com o Planalto a seleção de nomes 100% fechados com Dilma. Abespinhados, os peemedebistas não alinhados com o governo acertaram com a oposição uma chapa alternativa, que prevaleceu no plenário por 272 votos contra 199. Nessa chapa, os oito representantes do PMDB trabalham para mandar Dilma mais cedo para casa. Nas pegadas desse resultado, os desafetos de Picciani não tiveram dificuldades para reunir as assinaturas necessárias à destituição do líder.
A destituição de Picciani ocorre menos de 48 horas depois de o vice-presidente Michel Temer ter mencionado o nome dele na carta-desabafo que enviou a Dilma. "Sou o presidente do PMDB e a senhora resolveu ignorar-me chamando o líder Picciani e seu pai para fazer um acordo sem nenhuma comunicação ao seu vice e presidente do partido", queixou-se Temer.
O vice-presidente referia-se ao acordo firmado entre Dilma e Picciani na última reforma ministerial. Em troca da promessa de um apoio mais efetivo do PMDB na Câmara, a presidente atribuiu ao então líder peemedebista, um ex-eleitor do tucano Aécio Neves, a prerrogativa de indicar um par de ministros. "Os dois ministros, sabe a senhora, foram nomeados por ele", rememorou Temer em sua carta. Foram à Esplanada pelas mãos de Picciani os deputados Marcelo Castro (Saúde) e Celso Pansera (Ciência e Tecnologia). A troca de líder deixa esses ministros em má situação.
No final da semana passada, o Planalto havia confiado a Picciani a tarefa de indicar um terceiro ministro, para substituir Eliseu Padilha, o amigo de Temer que acaba de deixar o comando da pasta da Aviação Civil. O líder sondara para o posto, suprema ironia, justamente o deputado Leonardo Quintão, que desdenhou do ministério para assumir a liderança no lugar de Picciani.
Sondado por emissários de Dilma sobre sua dispoisção de conversar com a presidente depois da carta-desabafo, Temer preferiu protelar o encontro para esta quarta-feira. O vice irá ao encontro da inquilina do Palácio da Alvorada quando o escalpo de Picciani estiver pendurado nas manchetes como ex-líder. Ficará entendido que, por mais que Dilma diga que ama o PMDB, a legenda não é para amadores.
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