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Josias de Souza

Asfalto morno indica que a raiva exige previsão

Josias de Souza

13/12/2015 22h51

Perto da temperatura das manifestações de março, abril e agosto, o asfalto deste domingo, 13 de dezembro, estava apenas morno. E é justamente na queda da temperatura que está o principal recado do meio-fio.

Os brasileiros contra o governo, hoje majoritários, já informaram o que não querem: Dilma e o PT no poder. Se o impedimento for decretado pelo Congresso, assume o vice. É do jogo. Mas o que vem junto com Michel Temer?

O pacote do vice inclui Eduardo Cunha? E quanto ao resto da banda apodrecida do condomínio? O PSDB unificou-se em torno do impeachment. Beleza. Mas ajudará a resolver os problemas ou lavará as mãos no dia seguinte?

As pesquisas informam que a sociedade continua irritada. E o asfalto esclarece que a raiva exige um mínimo de previsão. Ao longo de 2015, os poderosos da nação revelaram que não estão entendendo o que se passa.

Dilma desperdiçou a sua hora atacando os delatores da Lava Jato, terceirizando o governo ao Lula e culpando a conjuntura internacional pela crise econômica. Quem levou madame para uma taxa de aprovação de 10% foi ela mesma.

Os adversários de Dilma perderam o nexo ao imaginar que a aliança com Eduardo Cunha os levaria a algum lugar. Ao exagerar no cinismo, os antagonistas da presidente comportaram-se como crianças que brincam no barro depois do banho. Hoje, Cunha frequenta os protestos ao lado do boneco de Lula-Pixuleko e Dilma-Pinóquia.

De tanto observar o absurdo, o brasileiro vai adquirindo certa prática. A raiva exige alguma previsão justamente por saber que o Brasil deixou de ser um país imprevisível. Tornou-se uma nação tristemente previsível. Nela, costuma-se mudar o status sem mexer no quo.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.