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Josias de Souza

Dilma pode jogar você na fogueira da Petrobras

Josias de Souza

15/01/2016 18h23

Fábio Pozzebom/ABr

O ambiente até que poderia ser favorável para o governo, pois as fornalhas do Congresso ainda estão desligadas. E a oposição não voltou das férias. Entretanto, a realidade, impregnada de Lava Jato e de maus indicadores, não tira folga. Para complicar, Dilma continua sendo Dilma. Nesta quinta-feira, a presidente admitiu, numa conversa com jornalistas, que pode jogar você, contribuinte, na fogueira da Petrobras.

Perguntou-se a Dilma se está descartada a hipótese de o governo "capitalizar" a Petrobras. Ela não descartou: "O que nós faremos será em função do cenário nacional e internacional. Nós não descartamos que vai ser necessário fazer uma avaliação se esse processo continuar."

Quer dizer: após fechar os olhos para a pilhagem na estatal, Dilma cogita ligá-la a uma bolsa de soro do Tesouro Nacional, cujos nutrientes são o seu, o meu, o nosso dinheiro. Fará isso sem precisar justificar a longa convivência com os petrolarápios. "Os fatores que levam a essa situação são fatores exógenos a ela [Petrobras], que ela não controla", disse madame, referindo-se ao derretimento da cotação do Petróleo. "Fatores exógenos", eis o álibi de Dilma.

A presidente mostrou-se apreensiva com o preço do petróleo. "Desde o final da década de 1990 até hoje, ele nunca esteve nos níveis que alguns bancos internacionais estão dizendo que ele vai chegar. Agora, se ele vai chegar, eu não sei e ninguém sabe. Porque ninguém podia dizer no final de 2014 que ele chegaria a 30 [dólares]". Verdade. Do mesmo modo, ninguém poderia supor que o PT no poder viraria uma espécie de abracadabra para a caverna de Ali Babá.

Do petróleo barato, a Petrobras ainda tira algum proveito. Importa na baixa e vende no mercado interno na alta, esfolando o consumidor brasileiro. Já a pilhagem nos cofres da estatal não serve nem mesmo de lição. Indagada sobre as delações que inundam o noticiário, Dilma deu de ombros. Para ela, há "muita repetição" nas denúncias. É mesmo! Muita repetição!

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.