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Josias de Souza

Batendo a porta: ‘PMDB afunda junto com o PT’

Josias de Souza

16/01/2016 02h10

Integrante da ala independente do PMDB, o senador Ricardo Ferraço, do Espírito Santo, desligou-se da legenda nesta sexta-feira (15). Em entrevista ao blog, disse ter concluído que o partido mantém com o PT um "casamento definitivo". Chamou a união de "abraço de afogados". Resignado, jogou a toalha: "Como o PMDB não muda, mudou eu. Abaixo, a transcrição da conversa:

— Por que deixou o PMDB? É uma decisão amadurecida. Eu cansei de ser ingênuo. Entre novembro e dezembro, cheguei a imaginar que pudesse haver algum tipo de ruptura entre o PMDB e o PT, em função de posicionamentos do vice-presidente Michel Temer. Mas os últimos movimentos deixam claro que esse casamento é definitivo. É um abraço de afogados. Ao lado de Dilma, o PMDB afunda junto com o PT. Como o PMDB não muda, mudo eu.

— A presença de caciques do partido na Lava jato causou-lhe incômodo? Evidentemente que sim. É inegável essa sociedade do PMDB com o PT. Já na convenção do partido, há dois anos, votei contra a renovação dessa aliança. Não apoiei a candidatura da Dilma e do Temer. Na eleição presidencial, fui coordenador da campanha de Aécio Neves no Espírito Santo. Vinha protelando a decisão de sair porque o PMDB, no meu Estado, é um bom partido. É bem diferente do PMDB nacional.

— Por que os descontentes do PMDB não reagem à predominância de personagens como Renan Calheiros e Eduardo Cunha? É como pregar no deserto. Os caras não estão nem aí para nada. Essa conversa não tem como existir no partido. O que interessa ao PMDB é ficar agarrado ao aparelho, mantendo a atual marcha da insensatez. O PMDB está construindo a sua tragédia.

— Por quê? Essa não é uma crise qualquer. Foi construída com muita sofisticação nos campos político, econômico e moral. Desenvolveu-se e estruturou-se de forma sistêmica. É uma coisa que não tem precedentes na história da República. A crise contempla todos os problemas característicos do patrimonialismo brasileiro, desde a sua origem. A pergunta que todos fazem é: o que faz o PMDB continuar atrelado a esse governo fracassado? Comecei a refletir sobre isso. Cheguei à seguinte conclusão: se não posso mudar o partido, mudo eu.

— Vai se filiar ao PSDB? O Aécio Neves foi extremamente simpático comigo. Assim que soube do meu desligamento do PMDB, fez contato. Ficamos de conversar nos próximos dias. Eu fiz a campanha do Aécio no Espírito Santo. Mas, por ora, a única coisa que está definido é que não vou para nenhum partido da base do governo da presidente Dilma. Não pretendo trocar seis por meia dúzia.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.