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Josias de Souza

Delcídio tenta anular gravação que o encrencou

Josias de Souza

21/01/2016 01h33

Delcídio Amaral desempenha no enredo da Lava Jato o papel de cego em tiroteio. Passada a fase de estupefação com a prisão, o senador namorou com da delação premiada. Apeado por Dilma do posto de líder do governo, tachado por Lula de "idiota" e suspenso dos quadros do PT, ele ameaçou levar os lábios ao trombone. Por alguma razão, faltou-lhe o sopro. Agora, sem ter o que dizer em sua defesa, investe na desqualificação da prova-mãe do inquérito em que é protagonista.

Delcídio virou sócio-atleta da Lava Jato graças à gravação de conversa que manteve com Bernardo Cerveró, filho do petrodelator Nestor Cerveró. A defesa do senador prepara petição em que sustenta que a fita foi produzida em condições ilegais. Levanta a suspeita de que a PF ou a Procuradoria tenham preparado a arapuca em que Delcídio caiu. Argumenta, de resto, que o filho de Cerveró não é parte do processo. Nessa linha de raciocínio, a gravação só poderia ter sido feita com autorização do STF, o foro em que são processados os congressistas.

Por ora, a tática da defesa serviu apenas para realçar o tamanho do esrosco em que se meteu Delcídio. O inédito encarceramento de um senador no exercício do mandato fará aniversário de dois meses na próxima segunda-feira (25). E o preso ainda não sabe como explicar o conteúdo da conversa que soa na fatídica gravação.

Pudera! Na fita, a pretexto de comprar o silêncio de Nestor Cerveró, Delcídio informa ao filho do ex-diretor da Petrobras que teria acesso a quatro ministros do STF —com a ajuda do "Michel" e do "Renan". Esclarece que providenciaria junto ao banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, um mensalão de R$ 50 mil para a família Cerveró, além de recursos para custear a fuga do patriarca até a Espanha, depois que a quadrilha arrancasse um habeas corpus do STF libertando Cerveró da cadeia.

Nesse contexto, Delcídio não tem mesmo muitas alternativas. Fallhando a tática do tumulto processual, ou vira colaborador da Justiça ou está frito.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.