Hipótese de Renan virar réu preocupa Planalto
A perspectiva de conversão de Renan Calheiros em réu no STF levou preocupação ao Palácio do Planalto. Hoje, o presidente do Senado é o principal aliado do governo no Congresso. É visto por Dilma Rousseff e seus operadores políticos como uma espécie de anteparo contra investidas de Eduardo Cunha, o presidente da Câmara. O governo receia que a mudança do status judicial de Renan lhe altere o comportamento, como já ocorreu em outras oportunidades.
Deve-se o desassossego à decisão do ministro Luiz Edson Fachin, do STF, de liberar para julgamento a denúncia em que a Procuradoria da República acusa Renan de receber propinas da empreiteira Mendes Júnior para pagar a pensão de uma filha que teve fora do casamento. Conforme noticiado aqui, a denúncia contra Renan estava engavetada no Supremo havia três anos. Tempo suficiente para que o personagem se envolvesse noutro escândalo, o petrolão.
Além de contar com Renan para ajudar a aprovar projetos duros de roer, como a emenda que recria a CPMF, o Planalto considera que o senador tornou-se peça vital na estratégia do governo para sepultar o pedido de impeachment contra Dilma. Sobretudo depois que o STF decidiu que o Senado pode rever eventual decisão da Câmara favorável à abertura do processo de impedimento.
Renan mantém com o governo um relacionamento pragmático. Só é bom se lhe rende dividendos. Um correligionário do senador diz, por exemplo, que ele esperava que o Planalto tivesse força para manter na gaveta a denúncia envolvendo a Mendes Júnior. O relator Fachin chegou ao STF por indicação de Dilma. Mas não parece ser o tipo de magistrado que agradece com a toga.
Ao tratar Renan como heroi da resistência do seu governo, Dilma torna-se uma personagem paradoxal. Ela costuma vangloriar-se de sua retidão. Há três meses e meio, fronte alta, a presidente indagou: "Quem tem força moral, reputação ilibada e biografia limpa suficientes para atacar a minha honra?" O conceito que Dilma faz de si mesma não orna com a biografia de Renan, um réu esperando para acontecer.
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