Topo

Josias de Souza

Azeredo escancara a ética seletiva do tucanato

Josias de Souza

10/02/2016 18h28

Cada vez que Eduardo Azeredo dá uma de joão sem braço no processo sobre o mensalão tucano de Minas Gerais realça a vergonha do PSDB, que precisa explicar por que ainda mantém nos seus quadros o filiado tóxico. No seu penúltimo movimento, Azeredo recorreu contra a sentença que o condenou a 20 anos e dez meses de cadeia por peculado e lavagem de dinheiro. Signatária da condenação, a juíza Melissa Costa Lage, da 9ª Vara Criminal de Belo Horizonte, refugou as alegações do grão-tucano, reiterando a pena de reclusão. Vem aí um novo recurso.

Apostando na infinidade de recursos que a legislação brasileira lhe faculta, Azeredo já não ambiciona propriamente uma absolvição. Em liberdadade, ele persegue a prescrição. Foi por essa razão que se retirou da cena brasiliense pela porta dos fundos. Renunciou ao mandato de deputado federal para fugir de uma condenação no STF, forçando o envio do processo à primeira instância do Judiciário. No Supremo, não haveria a mamata dos recursos em série. A exemplo do que sucedeu com os mensaleiros petistas, Azeredo já teria amargado uma temporada atrás das grades.

O PSDB ainda não chamou Azeredo de "heroi do povo brasileiro". Mas chegou muito perto disso ao afirmar, em nota oficial, que a sentença de 20 anos imposta ao seu ex-presidente nacional "surpreendeu" o partido, que "conhece a trajetória política e a correção que sempre orientou a vida do ex-senador e ex-governador." A legenda disse estar "confiante de que, nas instâncias superiores", Azeredo conseguirá expor as "razões de sua inocência", obtendo uma "reavaliação da decisão". Até lá, o tucanato condena-se a praticar, escancaradamente, a ética seletiva.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.