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Josias de Souza

Defesa de Temer trata o TSE como lavanderia

Josias de Souza

11/02/2016 18h49

No escândalo do petrolão, indicam as delações da Operação Lava Jato, o PT descobriu uma forma legal de ser desonesto. Transformou a Justiça Eleitoral em lavanderia das verbas sujas que migraram dos cofres da Petrobras para a caixa registradora da legenda. Ao defender-se no processo que pode levar à cassação da chapa encabeçada por Dilma Rousseff na eleição passada, o vice-presidente Michel Temer como que avalizou a conversão de pixulecos em doações eleitorais.

"Doação recebida e declarada de pessoa jurídica com capacidade contributiva, independentemente do que diga um delator, não é caixa dois. Até porque, como visto, o partido-autor [PSDB] foi agraciado com vultosas quantias das mesmas empresas, logo, não há mau uso da autoridade governamental pelos representados [Dilma e Temer]."

O que os advogados de Temer disseram, com outras palavras, foi mais ou menos o seguinte: 1) se a doação financeira foi registrada na Justiça Eleitoral, não importa que o dinheiro tenha sido roubado dos cofres da Petrobras. 2) ao sorver verbas das mesmas fontes que irrigaram a caixa do comitê de Dilma, o PSDB de Aécio enlameou-se. Logo, estão todos na mesma poça.

Pelo menos três delatores do petrolão —o doleiro Alberto Youssef; o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa; e o executivo da empresa Toyo Setal, Augusto Ribeiro de Mendonça Neto— contaram à força-tarefa da Lava Jato que parte da verba pilhada da Petrobras foi repassada ao PT disfarçada de doação oficial.

Outro delator, o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, estimou em até US$ 200 milhões o montante de propinas destinadas ao PT apenas na diretoria que era comandata por Renato Duque, preposto de José Dirceu.

Coordenador do cartel que assaltou a estatal, o empreiteiro-companheiro Ricardo Pessoa, dono da UTC, contou à Procuradoria que um pedaço do butim foi convertido num superpixuleco de R$ 7,5 milhões para a campanha de Dilma. "Não respeito delator", reage a presidente. "Foi tudo declarado à Jutiça Eleitoral", repete o PT, como um disco arranhado. "Independentemente do que diga um delator, não é caixa dois", ecoa agora a defesa de Temer.

Prevalecendo essa linha de argumentação, o TSE teria de fazer hoje o que sempre fez no passado em relação às prestações de contas de campanhas presidenciais: assumir o papel de bobo. A defesa de Temer alega que as contas da campanha já foram aprovadas. Verdade. Mas ainda não estava claro que o PT despejara nos escaninhos do tribunal propinas disfarçadas de doações. Se forem aceitas, ficará entendido que o TSE lava mais branco.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.