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Josias de Souza

Verba suja só no exterior. No Brasil, as campanhas de Santana foram limpas!

Josias de Souza

25/02/2016 19h02

Os depoimentos de João Santana e de sua mulher e sócia Mônica Moura à Polícia Federal revelaram um fenômeno alvissareiro. Constatou-se que o mago do marketing não está imune às ilegalidades típicas de sua classe. Mas descobriu-se que Santana só recebeu verbas por baixo da mesa no exterior. No Brasil, o marqueteiro de Lula e Dilma só gerenciou campanhas eleitorias limpinhas.

Coube a Mônica detalhar os recebimentos farejados pelos investigadores: US$ 7,5 milhões. Os US$ 3 milhões atribuídos à Odebrecht referem-se à campanha de Hugo Chávez, na Venezuela. Os US$ 4,5 milhões provenientes do operador de propinas Zwi Skornicki, ligado ao estaleiro Keppel, correspondem à campanha de José Eduardo dos Santos, de Angola. Tudo no caixa dois.

Mônica não conseguiu explicar por que diabos os partidos de Chávez e Santos delegaram seus pagamentos à empreiteira brasileira e ao operador de propinas do estaleiro, ambos atolados no lamaçal da Petrobras. Só não deixou réstia de dúvida quanto à convicção de que nada se refere às eleições brasileiras.

Santana também admitiu a existência da conta clandestina na Suíça. Mas alegou desconhecer a origem do dinheiro borrifado nela. Essa parte financeira é com a Mônica, disse. O João é um criador, ecoou o advogado. Mas a alma de poeta não impediu que o marqueteiro do PT realçasse o essencial: não passou pela conta secreta nenhum tostão proveniente de campanhas brasileiras.

Antes dos depoimentos de Santana e Mônica, tinha-se a impressão de que a corrupção eleitoral é encontrada em várias partes do mundo, quase todas no Brasil. Depois que os dois esclareceram tudo à Polícia Federal, ficou a impressão de que um fenômeno novo passou a ser observado no Brasil: os transgressores, mesmo quando brasileiros, só transgridem no estrangeiro, bem longe do PT e de suas campanhas limpinhas.

Editoria de Arte/Folha

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.