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Josias de Souza

PT trata Dilma como tia excêntrica e incômoda

Josias de Souza

26/02/2016 05h22

Dilma vive com o PT uma fase de estranhamento. Com atraso de duas semanas, o partido festejará seu aniversário de 36 anos neste sábado, no Rio de Janeiro. Crivado de investigações, Lula será o centro das atenções. O petismo irá afagá-lo com um caloroso desagravo. Quanto a Dilma, o PT a trata como uma tia excêntrica e incômoda, que precisa ser convidada para as reuniões de família porque, afinal, é da família.

Os mais impacientes recebem instruções para não ofender Dilma, salvo se for pelas costas ou nas conversas ao pé do ouvido. Os mais compreensivos são orientados a não encorajá-la a fazer um discurso longo. A tolerância que nem todos acham que a tia merece estará em perigo se ela escandalizar os presentes tentando convencê-los a apoiar a reforma da Previdência. Melhor evitar provocações. E só precisarão encontrá-la novamente, com polidez protocolar, em outra reunião familiar.

Ao farejar na atmosfera o tratamento de curiosidade anacrônica que lhe dispensam os companheiros, Dilma abespinhou-se. E começou a construir uma desculpa para, eventualmente, faltar à celebração. Com viagem marcada para o Chile, ela cogita cavar um atraso na agenda, de modo a retardar seu retorno ao Brasil.

Presidente do diretório do PT no Estado do Rio de Janeiro, Washington Quaquá, deu de ombros. Afirmou que o partido "não faz questão da presença de Dilma. Nesta sexta, o diretório do PT federal deve aprovar um plano econômico alternativo. Chama-se Plano Nacional de Emergência. Vai na contramão do que planeja tia Dilma. Inclui da queda brusca dos juros à elevação de gastos sociais e em infraestrutura. Sugere a abertura das arcas das reservas internacionais.

Se Dilma der as caras, será coadjuvante de Lula e atrairá olhares de irritação ou de condescendência. Se não for, liberará o petismo para se entregar ao boicote ao governo do PT. Sem constrangimentos. Prisioneiro de seus paradoxos, o PT pega em lanças contra o impeachment e se opõe ferozmente à hipótese de cassação do mandato presidencial no TSE. Mas já não sabe como lidar com a tia até 2018.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.