Dilma grudou os problemas de Lula no Planalto
Dilma Rousseff tem um curioso senso de oportunidade. Afastava-se de Lula e do petismo sob o argumento de que precisava governar para todos os brasileiros. Absteve-se até de comparecer à festa de aniversário do PT. Ficou em cima do muro até a última hora. Quando não teve mais jeito, saltou para o lado errado. Grudou o drama político-judicial de Lula no casco do Palácio do Planalto, hoje reduzido à condição de sede de um governo à deriva.
Na última sexta-feira, em manifestação lida diante dos repórteres, Dilma disse ter ficado "indignada" com o fato de Lula ter prestado depoimento sob os rigores da condução coercitiva. Mas a menção a Lula soou protocolar num discurso 99% dedicado a rebater as acusações feitas pelo delator Delcídio Amaral contra a própria presidente.
Na sequência, Dilma voltou a criticar, num encontro com governadores, o tratamento "desrespeitoso" dedicado a Lula. Em pleno gabinete presidencial, ouviu o que não queria: "Entendo que não houve desrespeito, presidente. Ninguém está acima da lei", disse o governador de Mato Grosso, Pedro Taques (PSDB).
No sábado, Dilma voou de Brasília até São Bernardo, para abraçar o problema. Ao lado de Lula e da ex-primeira-dama Marisa Letícia, a presidente da República acenou para um grupo de devotos que cultuava o ex-mito defronte do seu prédio. A oposição pedirá o ressarcimento das despesas dessa viagem, espetada num Tesouro Nacional em petição de miséria.
Nesta segunda-feira, Dilma agarrou-se novamente à figura de Lula numa cerimônia oficial de entrega de casas populares na cidade gaúcha de Caxias do Sul. Dessa vez, além de se queixar do método escolhido para interrogar seu criador —"sob vara"—, a presidente acusou a oposição de "dividir o país." Apagou da memória o bordão criado por Lula: "Nós contra eles." E desconsiderou as evidências de que a oposição, meio tonta, só conseguiu dividir a si mesma.
Dilma se apega à forma do depoimento de Lula sem atentar para o conteúdo. Sitiado por inquéritos, o personagem não consegue levar à balança da Justiça meio quilo de explicações. Ao enganchar o governo nas interrogações que rodeiam seu padrinho, a presidente empurra a encrenca para dentro do Planalto, autoconvertendo-se em parte do problema.
Errar é humano. Mas escolher o erro cuidadosamente, homenagear o erro em reuniões fechadas, meter-se em aviões e helicópteros para ir ao encontro do erro, posar para as câmeras ao lado do erro e render-se ao erro em discursos oficiais, só mesmo Dilma Rousseff, uma presidente fascinada pelo erro.
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